O Escocês Já Não É Mais o Mesmo

Três garrafas de whisky da marca Mackinlay, escocesa, foram encontradas na Antártida, embaixo de uma cabana utilizada pelo explorador inglês Ernest Sackleton em suas expedições de 1907. Sabendo da preferência do explorador por whiskys de 10 anos, a data de fabricação desses verdadeiros fósseis foi estimada entre 1896 e 1897. Mesmo em temperaturas de trinta graus Celsius negativos, o precioso néctar se manteve no estado líquido. Esse é mesmo dos bons. Dos legítimos.
Puta que o pariu!!! Isso, sim, é um verdadeiro achado arqueológico. E não pontas de flechas, panelas de barro, mocassins de couro de mastodonte ou preguiça-gigante, ou pinturas rupestres. Isso, sim, é um respeitável registro da passagem do ser humano pelo planeta.
As garrafas foram repatriadas à Escócia, endereçadas ao atual proprietário da Mackinlay, para análise. Análise? Analisar o quê? Como se analisa um Whisky? Bebendo, lógico. O dono da destilaria devia chegar em seu castelo mal-assombrado, acender o lareirão, vestir aquele roupão pesado, botar os chinelões, afundar-se em uma confortável poltrona e ir "analisando" as garrafas. Uma a uma, gole a gole. Não é assim? Parece que não. E é aí que a coisa começa a me desagradar.
Sempre tive o escocês na mais alta conta no quesito macheza, apesar do kilt. Um povo brigador, guerreiro, calejado e moldado pelo frio inclemente e por um terreno montanhoso, pedregoso, onde os fracos não têm vez. Para mim, o escocês era aquela mistura do Mel Gibson com o Highlander. Parece, no entanto, que o atual e progressivo embichamento planetário também anda a afetar esse valoroso povo.
O whisky será analisado em laboratório por seis semanas, será cheirado, submetido a espectrofotômetros, a densímetros, a pHmêtros, o caralho a quatro. Depois da análise, o whisky será enviado de volta à Antártida. Seis semanas analisando três garrafas de whisky com mais de 100 anos e ainda sobrará o que mandar de volta? Que merda de escoceses são esses?
Tenho cá uma sugestão, em vez de gastar um dinheirão com esses cientistas embichados, mande as garrafas aqui para o Marreta. Tratá-las-ei muito melhor que eles, analisá-las-ei muito mais cientificamente, bebendo-as. E sem nenhum custo, de graça. Convocarei, para segunda e abalizada opinião acadêmica, o meu amigo e filósofo Fernandão. Seremos, inclusive, muitos mais eficientes na entrega dos resultados. Não levaremos excessivas seis semanas no procedimento, duas madrugadas nos serão suficientes. Eu tomarei puro, desconfio que o Fernandão queira degustá-lo com pedrinhas de gelo de água de coco, mesmo esse meu amigo vem sendo afetado por umas frescuras. O paladar será nosso único equipamento e método de análise, mas repetiremos o experimento milhares de vezes, ou enquanto durarem as garrafas.
Só não vai sobrar material para mandar de volta à Antártida. Também para quê? Pra pinguim beber? Ora, vão à merda!!!

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