Saudades De Quando Os Robôs Eram De Lata

Ontem, longe de ser um de meus passeios preferidos, acabei por ir a um dos shoppings centers aqui da cidade. Sempre me entristeço com o gênero humano quando vou a esses lugares, mas ontem me entristeci mais.
Por conta do curto tempo de que eu dispunha para um compromisso que teria logo mais, acabei almoçando por lá, também.
A praça de alimentação estava atulhada de gente. Gente? De seres, gente, não sei.
Mesmo búfalos, gnus, girafas, zebras e outros "irracionais" conseguem ser mais organizados quando se reúnem à volta de um lago lamacento para beber.
Muitos desses seres (vou evitar chamá-los de gente daqui por diante), e garanto que não eram uma parcela inexpressiva da manada que ali se reunia, não se apercebiam do que acontecia em seu redor, isolados que estavam em seus aparelhos eletrônicos.
Raras as mesas onde duas ou mais pessoas conversavam ou, ainda que não conversassem, que apenas se alimentassem.
Esses seres alheios apresentavam um padrão básico: um laptop aberto à sua frente, um macqualquerbosta na boca, um fone de seus mp3, mp4, mpqp no ouvido e outro fone no outro ouvido, de seus celulares; uma mão no mouse do laptop e outra a se alternar entre segurar o sanduíche e verificar mensagens no telefone.
O rôbo do clássico Metropólis de Fritz Lang (foto acima) tem menos fios que esses seres que fiquei a observar ontem, imersos numa bolha virtual, em um mundo de catatonia e imbecilidade. Poderia passar a Angelina Jolie ao lado desses imbecis, que eles nem notariam.
Alguns brincavam com jogos em seus laptops, outros liam e-mails, outros consultavam coisas do trabalho.
E, desgraçadamente me ocorreu, alguns estivessem até "estudando", assistindo a "aulas" em seus laptops, esses cursos à distância que existem hoje em dia, talvez estivessem consumindo a imagem de um professor na tela juntamente com o macqualquerbosta.
Realmente não acredito nesses filmes de ficção que vaticinam um mundo onde as máquinas controlem humanos, mas vai ficar - já está - cada vez mais difícil saber onde começa um e termina o outro.
Chamem-me do que quiserem, mas eu me recuso a ser um professor virtual.
Nego-me a ser consumido juntamente - e no mesmo nível de importância - com um alimento
fastfood, com uma mensagem em mau português no celular e com uma música sertaneja no mp3.

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