O Professor-Gabiru

Há umas duas décadas, pouco mais, pouco menos, desconto dado à minha memória já não tão boa, ouvi dizer do Homem-gabiru.
Homem-gabiru é uma designação criada em Pernambuco por pesquisadores do Centro Josué de Castro: Tarsiana Portela, Daniel Amos e Zelito Passavante.
Esse homem seria o início do surgimento de uma possível subespécie humana, uma derivação do gênero ajustada a viver em condições extremas de miséria, adaptada a sobreviver com um gasto mínimo de energia.
A grosso modo, o homem-gabiru apresentaria um nanismo nutricional, estatura bem abaixo da média humana, atributo que lhe daria vantagens sobre os normais nessas regiões de alimento escasso, pois seu menor organismo requereria menor gasto energético.
Nessas regiões, seriam selecionados os indivíduos com esse nanismo, o que poderia levar à consolidação de uma derivação da espécie humana. Obviamente, o homem-gabiru também teria o intelecto bem reduzido em relação ao Homo Sapiens, no qual já não é grande coisa. O gabiru consome menos energia: menos energia, menor atividade cerebral, visto que cerca de 1/5 da energia consumida por nós é gasta pelo cérebro.
Não tenho ouvido falar muito do homem-gabiru ultimamente. O que não significa que ele não continue a existir, simplesmente não é mais noticiado. Mas, aparentemente, esses programas assistenciais do governo, essas esmolas eleitoreiras, deram uma barrada no processo de formação do homem-gabiru.
Mas se o homem-gabiru não existe como subespécie biológica, ele existe aos montes no aspecto comportamental do brasileiro, sobretudo no âmbito profissional.
Profissionais mal-formados é o que mais se vê hoje em dia. Desaculturados com diplomas.
Há médicos-gabiru, engenheiros-gabiru, administradores-gabiru, eletricistas-gabiru, encanadores-gabiru... o processo se alastrou por todas as áreas, em todos os niveis.
O mais perigoso dos gabirus: o professor-gabiru.
Um médico-gabiru, um engenheiro-gabiru, não necessariamente formam outros iguais.
O professor-gabiru, inevitavelmente, forma outros gabirus.
O professor-gabiru é aquele que não prepara sua aula, aquele fica conversando sobre a vida pessoal - dele e do aluno - ao invés do conteúdo que lhe cabe, aquele passa um filme para a classe sem nenhuma relação com o contexto, aquele que leva o aluno a passeios tão despropositados quanto, aquele que se faz de amigo do aluno para que esse desculpe sua inabilidade, aquele que se mete a ser psicólogo, conselheiro, assistente social e etc não por bondade, mas simplesmente porque não é capacitado nem para ser professor, é o professor que faz suas especializações em cursos de fim de semana, à distância, não-presenciais, é aquele que nem consegue se expressar num razoável português.
Mas ele nem é o mais perigoso.
O mais perigoso é o professor, os raros professores, que não é gabiru, mas que está desgraçadamente se dispondo a formar gabirus.
Esses professores tem sólida formação acadêmica, armanezam um grande cabedal de informações, são bem formados culturamente, sabem do valor do conhecimento obtido de modo árduo.
E apesar disso, de uns tempos para cá, tornaram-se divulgadores do conhecimento superficial, frugal, leviano, até. De uns tempos para cá, vêm renegando o estudo e conhecimento verdadeiro, os responsáveis por serem o que são.
Quem são esses não-gabirus formadores de gabirus? São aqueles que dão aulas nesses cursos à distância, são aqueles que pensam - talvez nem por maldade - que a grande massa é, como eles, capaz de estudar por conta própria, sendo dispensável a figura do professor, são aqueles que gravam suas aulas em vídeo, autênticos Cid-Moreiras da educação.
Se eles fossem também gabirus e formassem gabirus, estariam desculpados.
Não é o caso.
Execro aqui esse formadores de gabirus e sem medo de parecer saudosista. Até porque não ser saudosista não é aceitar toda e qualquer mudança dos tempos, se a mudança for para pior não é ser saudosista : é ter princípios, é não vendê-los por meros centavos.
Execro aqui esses Cid-Moreiras da educação.
Boa noite!

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