AUGUSTO DOS ANJOS

Eu tenho algumas - muitas - invejas literárias, escritos que eu gostaria de ter escrito.
Entre elas, está esse soneto de Augusto dos Anjos, o poeta da putrefação.
Nessas 14 bem arquitetadas linhas, ele condensa a perfeita tradução da natureza humana.

VERSOS ÍNTIMOS
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

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