Palavras Cruzadas

Agora, depois de velho, dei de apresentar a tal da ansiedade.
Frescura, viadagem, mesmo.
Mas fazer o quê?
A ansiedade vem da consciência (no meu caso) ou do saber instintivo (no caso da maioria) de que já se fez tudo o que tinha de ser feito, de que já deu sua cota à vida e que, apesar disso, ainda lhe restam muitos anos a serem vividos, que ainda vão lhe cobrar uma atividade, uma utilidade por muito tempo.
A ansiedade é provocada por essa procura do que ainda fazer, do que ainda ser. Quando não há mais nada, quando não há mais o quê. E é natural que assim seja, que não haja mais o quê. A ansiedade vem do homem em ser antinatural.
A ansiedade é deflagrada pela consciência do bicho que sabe do seu papel já cumprido, que sabe que já está a torrar mais oxigênio que o quinhão que lhe foi destinado.
Ansiedade é o sintoma manifesto pelo bicho que, em consciência de todo o supradito, só quer descansar, mas sabe que não irão deixá-lo.
Comprar e consumir exageradamente - seja comida, roupas, eletroeletrônicos e outros "teres" - não aplaca minha ansiedade, como é regra geral.
Prozac, Rivotril e outros ansiolíticos, ainda não os experimentei (li, dia desses, que o Rivotril é o remédio mais vendido hoje no Brasil, mais que aspirina, merthiolate, hipoglos, lacto-purga).
Maconha, outro ansiolítico, idem: ainda não a provei. Não por preconceito, não tenho nada contra droga nenhuma - salvas as religiões. É que, simplesmente, não me agrada a ideia de nenhuma espécie de fumaça a me invadir as ventas. Se houvesse maconha líquida, talvez já tivesse tomado uns goles.
Três ou quatro latinhas de cerveja - visto que o que ganho não chega para um bom Jack Daniels - têm contribuído para um sono menos entrecortado.
Mas o que funciona melhor para mim são as palavras cruzadas. Verdade.
Quando fico andando pra lá e pra cá, sem o que fazer, meio aflito, pego e vou preencher umas horizontais e umas verticais. Consigo me concentrar nas cruzadas em qualquer ambiente ou situação, em casa, na escola, em frente à televisão, com pessoas grasnando à volta, com cachorros latindo, com o barulho do trânsito.
Carrego-as, inclusive, ao banheiro. E fico ali, arriando, riscando a porcelana... e cruzadeando.
Mas são, as palavras cruzadas, uma droga como qualquer outra, doses cada vez maiores vão sendo requeridas. O cara começa com as do nível fácil, passa para o médio e assim por diante.
Há tempos que já me utilizo das que trazem a inscrição "Difícil" em sua embalagem, porém acho que estou sendo ludibriado, que estou a comprar "comprimidos de farinha", um placebo.
De qualquer forma, sempre aprendo algo novo ou, ao menos, lembro e reforço o que já conhecia; de qualquer forma, ainda está a fazer efeito.
As palavras cruzadas podem nem dar um "barato" feito essas fluoxetinas ou clonazepans da vida, mas são bem mais baratinhas.
E bem mais saudáveis.
Saudáveis? Sei lá.
Mas também quem aqui está atrás disso?

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