Caneca Viking

Fui chamar-lhe para outra de nossas viagens, 
Para outro de nossos retrocessos. 
E sabendo, 
Fiquei possesso em ter você se adiantado; 
Fiquei enciumado 
Do seu salto sem mim ao passado. 
Vai ver nem pensou em me chamar, 
Vai ver logo me excluiu de seu itinerário... 
Tudo mal, mas tudo bem 
Tenho ainda esse papel, essa caneta, 
Essa cabeça de deficiente vocabulário 
Que bem pensa, mas mal se expressa. 
Tenho ainda minha fraca e esverdeada chama de bário 
Que não incomoda meu sono 
Porém também não me deixa hibernar. 
Tenho ainda aquela caneca viking 
Da qual brotava vinho para nossas gargantas 
E querosene para nossas retinas. 
Eu ainda a uso sobre a mesma mesa 
Em cujo redor se enraizavam os amigos 
A cantar nas madrugadas frias. 
Frias como a de hoje. 
Hoje, no entanto, a mesa está desabitada 
Só há o frio, não há o canto. 
E na caneca viking 
Onde, num bem-vindo sincretismo, 
Escorria o suor de Dionísio 
Só me é permitido, esporadicamente, 
Um inofensivo e inexpressivo chá de camomila. 
Esquecido pelos amigos e tendo que abolir os vícios.. 
Que vida mais inútil !!

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1 Comentários

  1. Sacanagem, pegou no flagra, foi? Já estavam tomando no seu caneco?
    "J"

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