Fica Para o Próximo Dia do Saci

E hoje,
Ao invés
Do meu chá de melissa,
Usual,
Tomo chávena de Psilocybe,
Deixo na gaveta o pijama
E visto minha pele ritual.

Vou pro capão da mata
Um stonehenge no taquaral
Uma saturnália
Um sarau no bambual.

Eu e todos os Sacis,
O Pererê, o Trique, o Matiaperê, o Mofera.
O fogo da fogueira a sapecar nossos rostos
E a tomarmos fermentado de tari, de cauim,
Assando coquinhos, tanajuras e mandruvás
Pra tira-gostos,
Nos cachimbinhos, fuminho do bom,
Surrupiado da tapera do tio Barnabé :
Uma festa surpresa pra ti.

Chegaram o Caipora e o Curupira,
E não sabiam de ti.
Chegaram a Iara e o Boitatá,
E não sabiam de ti.
Chegaram a Cuca e o Negrinho do Pastoreio,
E nada sabiam de ti.

A mula-sem-cabeça
O Pai do Mato
A Comadre Fulozinha
O Mapinguari
O Corpo-seco
O Quibumgo,
O Tutu Marambá
E nada sabiam de ti

Perguntavam,
Quando perguntados de ti :
Que figura folclórica é esta?

E o sol chegou antes de tu chegares.

Fica para outra vez,
Para outro Dia dos Mortos,
Para outro Dia do Saci.

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5 Comentários

  1. Uma aula de folclore brasileiro! Já leu "O Saci" do Monteiro Lobato? Recomendo. Gostei muito da quadra
    Vou pro capão da mata
    Um stonehenge no taquaral
    Uma saturnália
    Um sarau no bambual.

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    1. Se eu li o Saci do grande Monteiro Lobato? E de onde você acha que veio a inspiração para esse poema? Tenho a coleção infantil dele toda, que li na íntegra ainda em criança e devo ter relido umas duas vezes já depois de adulto. Tentei fazer com que meu filho lesse, mas ele nem se dignou a pegar os livros. É uma geração ingrata para com os grandes mestres. E falo do Lobato, é claro.
      Aliás, todo meu interesse por folclore e mitologia nasceu lendo o Saci, o Minotauro e os Doze Trabalhos de Hércules.

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    2. Que nem eu! Mesmo que eu jamais defenda uma modernização do texto, entendo que a linguagem muito antiga talvez assuste e espante quem ao menos se aventurar na leitura de seus livros. Tentando fazer uma piadinha, diria que vivemos em um mundo "hieroglificado", que dá valor às imagens. E a escrita voltou à sua origem, com abolição das vogais. Um mundo antigo que se acha moderno, sei lá.

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    3. Você disse que seu filho nem se dignou a pegar os livros. Talvez a culpa disso seja das escolhas literárias das escolas. Um de meus filhos disse que o livro de que mais gostou (dos que foi obrigado a ler) foi "O menino no espelho", do Fernando Sabino. Talvez o gostar de ler seja um processo longo, estimulado por livros inicialmente finos mas sempre divertidos e atraentes. De nada valem belas ilustrações se o texto é uma merda.

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    4. É um mundo moderno, cronologicamente. Mas voltando, e por opção, ao total primitivismo. Dá uma tristeza muito grande. Nem fico mais puto. Fico triste.

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