Há muito morto,
Sempre gostei de,
À madrugada,
Da sacada,
Olhar para a cidade viva :
Voyeur de seus porres e de suas cópulas.
Hoje,
A cidade também morta,
Desvio-me de seus olhares :
Nunca gostei de me mirar no espelho,
Seria como flertar com a minha imagem
Na superfície limosa e estagnada
De um lago margeado por narcisos murchos.
5 Comentários
Belo poema!
ResponderExcluirComo você é muito culto, tenho quase a certeza de que tirou a inspiração para este poema do mito de Narciso, mas uma antítese do mito, que de tanto se mirar no espelho d'água teria se afogado. Independente de estar ou não correta minha suposição, gostei do poema.
ResponderExcluirInspiração, não. Plágio descarado, mesmo. Afogado? Acho que afogado, não; murcho, mesmo; triste, cansado da própria imagem, que não mais o empolga, não mais o enleva, nem de longe o satisfaz. Que já não gosta mais de nada que faz, que pensa, que acredita, que pratica, que escreve.
ExcluirVocê não imagina como esse seu comentário me retratou!
ExcluirImagino, sim, Jotabê, Tenho notado o mesmo desalento no que você anda publicando de inéditos. Eu tô com uns quatro ou cinco textos começados e não os finalizo não por não saber como terminá-los, mas por achar que eles nada tem de novo, interessante,original; por achar que não valem a pena.
ExcluirPode ser só o velho black dog e amanhã ou depois estamos melhor. Aliás, a expressão "black dog" aplicada à depressão não é originalmente do Churchil. É do Edgar Allan Poe, descobri isso um dia desse, ao assistir ao filme O Corvo, com o Edward Norton.
Ah, e amanhã vou tomar a primeira dose da vacina. O estado de SP abriu vacinação para os professores acima dos 47 anos.