Tá Lá o Corpo Estendido no Chão

Nenhum talento
Vocação
Nem vontade de ser alguma coisa
 
(Nenhum empenho ou dedicação,
Ainda assim, o cansaço).
 
O mesmo emprego
Há mais de 20 anos,
A mesma impostura,
A mesma figuração nesse teatro de vampiros
 
 (Nenhuma falta-delito no meu prontuário,
Ainda assim, a vergonha, a sensação/constatação de inutilidade).
 
Nenhuma nova paixão
Há mais de 10, 12 anos,
Só conservas em salmoura e em botulismo das antigas,
Feitas em picles de rabanetes
 
(Nenhuma culpa no cartório,
Ainda assim, boneco intranquilo de um museu de cera).
 
Nenhum livro lido
Nos últimos três meses;
Nenhum publicado
Durante a vida inteira
 
(Pressão arterial, triglicérides e colesterol normais,
Ainda assim, a desistência do coração).
 
Tá lá o meu corpo estendido no chão.

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5 Comentários

  1. Olá, Marreta.

    Belo poema, até baixei aqui em pdf para guardar.

    Me identifiquei com o que está escrito, com a monotonia da vida. As vezes também sinto como se não tivesse nenhum talento, vocação ou motivo, sempre sentindo um cansaço para continuar. A vida é assim, monótona, com alguns espasmos de alegria que permitem continuar na semana seguinte a fazer as mesmas coisas.

    Abraços.

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    1. Rapaz, muito obrigado pelo comentário e pelo elogio.
      Primeira vez aqui no Marreta? Como chegou até aqui?
      Fique à vontade para fuçar no blog, tem mais um monte de poemas, contos etc. Vai achar muita coisa boa e muita coisa ruim, também.
      Abraço.

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    2. Primeira vez que faço um comentário por aqui, mas acompanho já faz um tempo hahaha
      Cheguei aqui pela primeira vez através do Blog do Neófito, mas já li algumas postagens no Azymandias Realista. Gosto bastante dos seus textos, do humor e das sátiras. Até leio alguns para meu pai, ele ri bastante.

      Tenho um blog também, se quiser dar uma passada por lá, segue o link:

      https://magodotempo.com/

      Abraços!!

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    3. Cara, li uns três posts do seu blog e gostei pra caralho. Você tem um texto muito bom. vou ler mais depois. Adicionei o seu blog na lista de blogs aqui do Marreta, na barra lateral.
      O Ozy lê textos meus pro tio dele, você, para o seu pai; que idade ele tem?
      Abraço.

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    4. Fico feliz que tenha gostado dos textos. Estou melhorando minha escrita gradativamente, tentando encontrar uma voz própria.

      Meu pai está com 60tão. Ele ri bastante com os textos, semana passada li "o vírus em mim", no dia do lançamento.

      Abraços!!

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