Apodrecido 12 anos em Barris de Carvalho

Quantos anos, meu bem?
Quantos anos sem nos vermos,
Nos falarmos,
Nos sentirmos,
Nos farejarmos,
Nos sabermos?
 
Quantos anos, meu bem?
Quantos anos só a nos recordarmos
A nos relermos
Em bibliotecas de livros apenas sonhados
Mas nunca escritos?
A matarmos saudades
Em inexistentes álbuns de fotografias
(nunca tiramos uma fotografia juntos)?
A pegarmos no sono
(o meu sempre leve e atribulado)
No travesseiro estofado com a cortiça
Das rolhas dos vinhos
Que bebemos juntos
Brindando à Atlântida que naufragava à nossa frente?
 
Reencontrássemo-nos hoje
Revíssemo-nos
Retocássemo-nos
Ainda estaríamos apaixonados,
Impondo-se agora a realidade à lembrança?
 
Eu, sim;
Tu, talvez,
Enquanto a memória fosse consumida em fogo-fátuo :
O último brilho do teu olhar dirigido a mim.
 
Peço-te-me desculpas por isso,
Por ter-me-ti tornado nisso,
Num autômato anedônico,
Desapaixonante.
 
(segue anexo um ramalhete de peônias)

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