Quantos anos, meu bem?
Quantos anos sem nos vermos,
Nos falarmos,
Nos sentirmos,
Nos farejarmos,
Nos sabermos?
Quantos anos, meu bem?
Quantos anos só a nos recordarmos
A nos relermos
Em bibliotecas de livros apenas sonhados
Mas nunca escritos?
A matarmos saudades
Em inexistentes álbuns de fotografias
(nunca tiramos uma fotografia juntos)?
A pegarmos no sono
(o meu sempre leve e atribulado)
No travesseiro estofado com a cortiça
Das rolhas dos vinhos
Que bebemos juntos
Brindando à Atlântida que naufragava à nossa frente?
Reencontrássemo-nos hoje
Revíssemo-nos
Retocássemo-nos
Ainda estaríamos apaixonados,
Impondo-se agora a realidade à lembrança?
Eu, sim;
Tu, talvez,
Enquanto a memória fosse consumida em fogo-fátuo :
O último brilho do teu olhar dirigido a mim.
Peço-te-me desculpas por isso,
Por ter-me-ti tornado nisso,
Num autômato anedônico,
Desapaixonante.
(segue anexo um ramalhete de peônias)
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