Cerveja-Feira (37)

Animais de apoio emocional são mais do que simples pets. Mais até que os animais de serviço, como os cães-guias dos cegos, por exemplo. Ocupam um status maior dentro de nossa sociedade frouxa, decadente e afrescalhada. São animais que "proporcionam conforto e auxiliam no controle de doenças psiquiátricas de seus donos (ops, donos, não : tutores, que bicho também é gente, e vice-versa), com depressão e ansiedade".
O animal de serviço é treinado para desempenhar uma tarefa exclusiva. O animal de apoio emocional (AAE) não recebeu nenhum treinamento específico, ele traz benefício simplesmente pela sua presença, reconforta através de seu companheirismo.
Resumindo, o cão-guia é uma bengala branca que mija nos postes; o AAE é um rivotril de pulgas e quatro patas. Um é o pastor alemão capa preta, o outro é o poodle tarja preta. Pããããããta que o pariu!!!
Para um animal ser registrado como um AAE, para poder acompanhar seu dono em ambientes normalmente vetados aos pets comuns, como cabines de aviões e ônibus, locais de trabalho, restaurantes etc., o dono deve ter uma carta de um profissional da saúde, um psiquiatra, no caso, que ateste que o sujeito é doido e que também prescreva o animal como forma de tratamento.
O AAEs mais comuns são os cães e os gatos, porém, em princípio, qualquer animal pode ser adequado a essa categoria, tartarugas, papagaios, calopsitas, hamsters, porquinhos-da-índia, iguanas, furões, pôneis etc. Ouvi dizer que a jiboia opera verdadeiros milagres no tratamento à depressão e à ansiedade de quarentonas descasadas, de cinquentonas sem porvir e de rapazes alegres, porém deprês.
Assim sendo, se algum louco de dar estilingada na lua declarar que um elefante é seu AAE e quiser viajar de avião, a empresa aérea que se vire para arrumar um C-130 Hércules da FAB e satisfazer ao cliente, sob pena de, caso não o fizer, ser acusada de "não inclusiva", ganhar milhares de "deslikes" e ser cancelada nas redes sociais, as novas fogueiras da Inquisição. 
Se um outro louco de comer bosta disser que uma vaca é seu AAE e quiser que ela o acompanhe ao trabalho, o seu empregador que se vire para transformar o escritório do maluco num curral, sob pena de, se assim não proceder, sofrer sérios e intermináveis processos trabalhistas.
É o viadisticamente correto a imperar no triste século XXI!!!
Há os que ficam, feito eu, indignados, putos da vida com tanta frescurada. Outros, muito mais inteligentes que eu, embarcam na onda e tentam também tirar vantagem dela. Uma vez no inferno...
É o caso de Floyd Hayes, morador de Nova York (EUA), que se intitula como diretor criativo e "produtor de ideias". Fazendo mais do que jus ao que declara em seu currículo, Floyd, em 2020, tentou registrar a sua cerveja preferida como seu animal de apoio emocional. 
À época, Floyd admitiu que a tentativa de registro era uma brincadeira (e uma crítica ao exagero dos AAE), mas que se "colasse", ele poderia conseguir permissão para entrar no metrô tomando uma cerveja, o que é proibido em Nova York.
Gênio! Coisa de gênio! Gostei pra caralho da ideia! Se Floyd consegue o registro de sua cerveja por lá, imediatamente eu entro com pedido de registro da minha boa e barata por aqui, alegando jurisprudência internacional. Vou aos tribunais da Organização dos Estados Americanos se preciso for. 
Fim de semana ou feriadão na casa da sogra? Já vou bebendo na viagem! Reunião pedagógica? Levo um fardo! Mas não é um animalzinho só?, alguns poderão questionar. É que esse deu cria, direi eu. Aniversário de criança filha de crente? Um engradado.
Floyd não conseguiu o registro de AAE para o seu cão enlatado, mas produtor de ideias que é, pensou numa maneira de ganhar uns dólares com a brincadeira.
Em parceria com a Woodstock Brewing, Floyd lançou a Emotional Support Beer, uma IPA, uma loira gelada do estilo India Pale Ale com lúpulo Citra, com notas de maracujá e manga.
Parte do lucro obtido com a cerveja de apoio emocional, cujo pacote com quatro latas de 473 ml está a ser vendido por US$ 20, coisa de 28 reais o latão, será revertido em benefício de um abrigo que cuida de animais abandonados. 
Claramente, a cerveja de apoio emocional de Floyd não cabe no meu bolso. Muito mais que a minha saúde emocional, a minha saúde financeira ficaria seriamente abalada.
Dessa forma, longe de ser o hábil produtor de ideias que é Floyd Hayes, uma centelha de imaginação me ocorreu, foi-me inspirada por ele. 
Vou tentar registrar também um AAE, e já escolhi a espécie que pretendo adotar : uma perereca. Uma perereca-felpuda da obscura Floresta Ohânica, o ecossistema mais desmatado da atualidade e de cuja devastação pouco ou nada se fala.
Minha esposa entra e me pega no sofá : - Que perereca é essa no seu colo?  - É meu AAE. 
Serei crucificado do mesmo jeito. Pelas bolas do saco!!!

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1 Comentários

  1. Os gênios são sempre incomprendidos! Mas, se o Vinicius de Moraes chamava o uísque de "cachorro engarrafado", claro que a cerveja também poderia ser algum pet (e nem precisaria ser embalada em garrafas pet). Fui.

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