E Pra Ver Se o Cu Tá Limpo?

Pensei já ter visto de tudo no quesito papel higiênico, no setor do bem-estar e dos agrados ao cu : já vi papel higiênico Lavanda de Provence, em tom lilás desmaiado, que promete trazer ao seu banheiro e às sua pregas a atmosfera perfumada, óbvio, da região de Provence; um outro com "alto relevo de flores, perfume e uma micro-textura" que, segundo o texto da embalagem, proporciona aos seus felizes utilizadores "a suavidade de uma pétala de rosa"; outro com extrato de pêssego em suas folhas duplas alaranjadas e, o top do top, um que contém óleo de amêndoas, o que proporciona, segundo o fabricante, "maciez superior e um cuidado maior com a pele", na sua delicada fórmula encontramos Vitamina E.
E olha que eu nunca nem entrei em lojas especializadas, nunca entrei numa boutique ou numa outlet das pregas, numa delicatessen do cu. Só mesmo em supermercados comuns, populares.
Nas décadas de 1960, 1970, era comum a expressão "dar tratos à bola" (a Rita Lee gravou um bom LP com esse título), a qual significa pôr a cabeça para funcionar, matutar sobre uma questão, queimar a mufa, fazer exercícios de pensamento e intelectualidade. Hoje, pelo visto e narrado, o povo dá tratos é ao cu.
Pudera. Em tempos de redes sociais, de likes, de curtidas, de bundas e peitos cheios (nada contra, digo de passagem) e de cabeças vazias, de postar  e repostar "pensamentos" pré-fabricados - o tal facebook, a mim, parece uma versão digital e virtual dos para-choques de caminhão -, ninguém mais dá tratos à bola. Dá tratos ao cu. Afinal, cada qual cuida do talento e do patrimônio que lhe são mais valiosos.

Pensei já ter visto de tudo no quesito papel higiênico... Mas, ah, o mercado do refinamento e da sofisticação. Ah, a indústria da futilidade. Ah, o  nicho da viadagem. Sempre me surpreendem. Negativamente.
Ontem, fui ao mercado comprar umas coisinhas e passei pela prateleira de papel higiênico. Compro o neutro de folha dupla. Mas é só por causa da esposa. Quando era solteiro e morava sozinho, eu comprava o papel higiênico Primavera. Os mais velhos vão se lembrar, era aquele cor-de-rosa, feito de papel áspero e grosseiro, para machos da antigas. O Primavera era multifunção, limpava, coçava e depilava. Pois estava eu, então, a achar o folha dupla mais barato, quando me deparei com ele : O Personal Vip Black. Um papel higiênico preto. Preto feito piche. Feito breu. O preço também era uma nota preta.
Choque e estranheza passados, voltou-me a razão e o senso crítico : como é que o sujeito que usa o Personal Vip Black faz pra saber quando é que o cu tá limpo? Que ainda não está a precisar de uns retoques finais? Depois da obra concluída, passamos o papel no toba e vamos sempre dando aquela conferida : marrom intenso na primeira passada, um castanho na segunda, um bege-amarelado depois e, enfim, o papel sai branco. E com o Personal Vip Black? Como saber se o cu tá limpo?
O único jeito é o baitola, é o viadinho garantir (e se divertir) com um potente jato de um bom chuveirinho! 
Pãããããta que o pariu!!!!

Em tempo : aos saudosistas, o papel Primavera, o papel higiênico do cabra macho. Tempos em que quem tinha cu tinha medo; inclusive do papel higiênico.

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3 Comentários

  1. para combinar com o momento da higiene, ouvir a música "Paint it black", dos Stones (I wanna see it painted, painted black). O cu agradecerá.

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    1. Rapaz, isso de pintada de preto, na minha época, não que eu tenha tido experiência, era rolada de negão. A bonitinha mas ordinária é quem sabe bem disso.
      E eu não sabia que você era um entendido em cu. Mas que futebol que nada, o cu é a preferência nacional.

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  2. Para eu não correr o risco de fazer outro comentário infeliz e que dê margem a dúvidas, direi apenas que ao sugerir a música tema, sem querer, caguei fora do penico (rolada de negão? Tô fora!).

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