Um Velho e Cansado Superman

Não sei se alguém que me lê assistiu à série Smallville, que narra a trajetória do adolescente Clark Kent rumo à sua transformação no Superman, o Homem de Aço. A concepção da série é muito boa, como também foram muito boas as suas duas primeiras temporadas; então, aconteceu o que de pior pode acontecer com uma boa série : o sucesso e a consequente e nefasta necessidade de agradar ao público. Da terceira ou quarta temporada em diante (foram dez), a série virou mais um novelão e lá pela quinta ou sexta temporada, eu deixei de vê-la.
Mas um episódio em especial teve um forte impacto em mim. Clark Kent (o jovem Tom Welling) fica sabendo de um astrônomo, Dr. Virgil Swann, que teria informações da localização do planeta Krypton, do setor do espaço em que Krypton existira antes de explodir. Clark Kent se encontra com o cientista Swann e o tal é ninguém mais ninguém menos que Christopher Reeve, o eterno e definitivo Super-Homem do cinema.
Uma belíssima homenagem. De arrepiar a minha casca grossa. O encontro do jovem Superman com o antigo Super-Homem - Christopher Reeve ficou tetraplégico em uma queda de um cavalo, em 1995. 
O episódio foi ao ar no dia 15/04/2003 (Christopher Reeve morreria em 10 de outubro do ano seguinte, 2004) e promoveu o encontro de duas gerações do herói. Uma bela homenagem, repito. Mas também triste pra caralho. Não sei para Christopher Reeve, mas para mim, sim.
Coloquei-me - fui colocado sem me dar conta - no lugar do tetraplégico ex-filho de Krypton a olhar para o atual herdeiro da égide do "S". A olhar, só podendo mesmo mexer os olhos, o que ele tinha sido há poucas décadas. O cara voava e fazia o planeta rodar ao contrário para fazer voltar o tempo e salvar Lois Lane e, agora, estava lá, paralisado do pescoço pra baixo, a olhar para uma sua antiga fotografia que ganhara vida, carne e poderes sobre-humanos.
Fiquei mal por ele - por mim, que a idade já vinha me impondo o seu peso - e saiu o escrito abaixo.

UM VELHO E TRISTE SUPER-HOMEM 
(AN OLD AND SAD SUPERMAN) 
Gosto, mas faze-me mal olhar pra ti 
Faz-me lembrar do que já tive 
Tens tudo o que perdi. 
Fico uma folha em branco a contemplar uma biblioteca, 
Pedra de pirita frente a todo ouro Asteca. 

Gosto, mas dói-me demais o teu sorriso 
Lembra-me de quando era poderoso como ti 
Pra depois me ver reles, motivo de riso. 
Fico um fósforo encarando estrela de primeira grandeza, 
Verme mirando olímpica beleza. 
Olhar-te é me olhar num espelho 
Onde o tempo, às avessas, flui 
Olhar-te é, num cruel reflexo, 
Olhar como já fui; 

Gosto de ti mesmo assim. 
Mas o que não suporto são teus olhos. 
O pior são os olhos teus 
Azuis, pólos magnéticos 
Faiscando com o poder de um semideus. 
O pior são teus olhos 
Azuis, telecinéticos 
Alçando-te a saltos, vôos estratosféricos. 
O pior são teus olhos 
Azuis, bondosamente enérgicos. 
Ante a eles, meus olhos são baços, cansados : 
De um super-homem tetraplégico. 

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4 Comentários

  1. Seria insensato dizer que é seu melhor post, pois ainda não consegui ler tudo, mas é "top ten". Muito emocionante. Parabéns mesmo. E nem precisa falar que é antigo ou outra viadagem do tipo. É muito bom e basta.

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    1. Também gosto muito desse poema ou seja lá o que for.
      Valeu, JB.

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  2. Hummm, elogiando um macho de olhos azuis... o senhor não me engana
    E não venha me dizer que é saudosista, é uma bichona mesmo

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    1. E você prefere um de olhos verdes? Ou de olhos castanhos, feito os meus?

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