Barca Furada

"O negócio é saber que o mar não tá pra peixe e sair pra pescar."
(Raul Seixas, O Negócio é)
É isso aí, Raul! O negócio é saber que o mar não tá pra peixe e sair pra pescar! É saber que aquela noite era noite para se ficar em casa, para ir dormir mais cedo, é saber que pôr o pé à rua só poderia dar merda e, ainda assim, sair, sair para insistir, para contrariar o universo, para fazer dar certo.
E não dá. Não tem jeito. Nunca dá. É aquela noite perdida, fudida.
É entrar na famosa barca furada, sabendo-a já a fazer água.
E depois, ao fim da madrugada, baleado, bolsos vazios, ressaca etílica e moral, arrepender-se, chamar-se de idiota, rogar praga em si mesmo, berrar aos céus e à aurora que nunca mais. E, na semana seguinte, corpo já recuperado e mente sem a menor vergonha na cara esquecida, fazer tudo de novo, entrar em outra barca furada.
Furada e sem nem Caronte a conduzi-la. Já entrei em verdadeiros Titanics furados, ah, se entrei!!!
Mas a barca furada não deve ser motivo de vergonha, consternação ou constrangimento para ninguém que já tenha sido seu tripulante, para nenhum de seus marinheiros mareados.
A barca furada faz parte do processo, da vida. A barca furada faz parte. E faz falta. Pããããta que o pariu, como faz falta...

Postar um comentário

0 Comentários