Sem Negociações

Em entrevista a Gabriela Dobner, do iG São Paulo, Paulo Renato Souza, secretário de educação paulista, disse sobre a greve dos professores: "Não há o que negociar".
Discordo dele. Existe muito a ser negociado. O que Paulo Renato quis dizer nas entrelinhas foi : o governo NÃO PRECISA negociar nada.
E não precisa, mesmo. É poderoso o suficiente para que não.
A Constituição assegura o direito de greve, mas não dá garantias de que ela irá funcionar ou de que terão de existir negociações. Espertíssimos esses rapazes que escrevem as leis no Brasil.
A greve é uma arma? Sim. Porém a serivço de quem, do trabalhador ou do governo?
Do trabalhador, bradarão os grevistas em uníssono.
Ora, professores, não sejamos burros, pelo menos não além do que eu já os considero, e pensemos, em que situação alguém (um Estado-Nação) concede a outrem (o trabalhador) o direito legal de lhe botar uma arma ao próprio peito?
Resposta simples: quando esse alguém se sabe totalmente invulnerável à ação daquela arma.
Mais: convencido da eficiência de tal "arma", o trabalhador deixa de pensar em outras formas de lutar, formas essas, talvez, com poder de coerção sobre o Estado.
O Estado só concedeu o direito à greve depois de muito bem se blindar contra ela e se equipar de um sem-número de recursos para desbaratá-la quando bem entender. E aí vem o trabalhador, bate no peito com orgulho, e acredita mesmo que tal direito constitucional foi conquista dele. E é a partir daí que o grevista trabalha a favor do Estado.
O Estado, como todo bom tocador de gado, sabe que nunca se deve encurralar totalmente o bicho, sempre deve restar ao animal o vislumbre de uma possibilidade de fuga (ainda que ínfima), de uma melhora (ainda que ilusória), deve sempre se dar ao bicho um alento, um respiradouro, uma válvula que alivie a pressão quando ela estiver próxima de seu ponto crítico, senão o bicho estoura verdadeiramente para cima do dono. E isso é tudo o que o dono não quer.
O direito constitucional à greve é essa ilusão dada ao trabalhador de que ele pode efetivamente, e pelas próprias mãos, dar rumos mais dignos à sua profissão. Não pode. O direito à greve é o engodo dado ao bicho de que ele é dono e senhor de seu destino. Não é. A greve é aquela valvulazinha que, de tempos em tempos, alivia a pressão.
Quando detectam que a coisa está realmente para explodir, governos e sindicatos confabulam, armam o circo da greve e põem tudo de volta em seus devidos lugares. Indubitavelmente, a greve tem importante função social, dá esperança (vã como todas) ao trabalhador, mantém tudo nos eixos.
Greve não é indício de desordem, antes pelo contrário, da reinstalação da ordem.
Mas, devo confessar, estou um tanto decepcionado com um aspecto dessa greve. Até agora, não vi professor apanhando em manifestações, não vi a polícia "chegando junto" nas passeatas, não vi ninguém ser pisoteado pelos cavalos, ninguém sair de olhos inchados de uma nuvem de gás lacrimogênio, ninguém a correr com balas de borracha a lhe pipocar o lombo.
Mas ainda resta uma esperança, parece que sexta-feira (19/03) haverá nova manifestação na avenida Paulista. Quem sabe dessa vez.
Rapaz...como eu gosto de ver grevista levar bordoada.

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