"Novas" Tecnologias

Todo dito popular é burro, e aquele que afirma ser "a necessidade a mãe de toda invenção" não foge à regra. A necessidade não é mãe da invenção porra nenhuma. É bem o contrário, a invenção é a mãe de toda necessidade.
Entra dia, sai dia e somos bombardeados com novas invenções, novas parafernálias que imediatamente se tornam indispensáveis à nossa vida e ao nosso bem-estar. Parafernálias que nem sonhávamos que pudessem existir ou mesmo que pudessem ser inventadas há 20, 15 ou 10 anos, e por cuja falta ninguém nunca morreu ou deixou de bem viver. Celulares, tvs de plasma, gps, blue-ray (seja lá o que for isso), bluetoth (idem) e até mesmo - e por que não? - o já parte da família, controle remoto. Quem morreu ou teve impedimentos para ser feliz na época em que essas engenhocas não existiam? Hoje, quem é mais feliz por conta delas?
Mas isso nem é o pior. O pior é quando pegam um produto que já existe há tempos, em forma simples, barata e altamente funcional, e o travestem de novidade, mudam-lhe o nome (para o inglês, de preferência), põem-lhe uma roupa futurista, enchem-no de botões e lampadinhas e sobretudo - esse é o objetivo - duplicam, triplicam, decuplicam seu preço.
É o caso dos purificadores de água.
Na semana passada, foi comemorado o Dia Mundial da Água. Bom, eu gosto de água, gosto muito de água, sou 65% água, mas quero que o Dia da Água se foda e tenho certeza de que cada manancialzinho de água do planeta tem a mesma opinião.
Acontece que em tal dia, os jornais saíram com suas páginas tingidas de azul-água (água não é incolor?), cheios daquela lenga-lenga de preservação e com suplementos especiais a respeito da data.
Em um desses cadernos comemorativos, havia um quadro comparativo entre as principais marcas de purificadores de água do mercado, onde se confrontavam os atributos de cada modelo. Estavam postos lado a lado, o sistema de filtragem de cada um, a eficácia em eliminar os diversos tipos de contaminantes e os respectivos preços.
O mais simples era munido de uma membrana de ultrafiltragem e de carvão ativado acondicionado em tubo de polipropileno revestido de prata coloidal. E a sandice seguia, o segundo era equipado com membrana de filtro oca com 40 bilhões de microporos, o seguinte irradiava luz ultravioleta (purifica e bronzeia ao mesmo tempo, o filho da puta), o próximo injetava ozônio na água e assegurava, além da desinfecção, um aumento na produção de interferon e interleucina pelo organismo (vai ver que o ozônio desse é para proteger do ultravioleta do anterior, compre o purificador e ganhe sua camada de ozônio particular), o último deles, diziam as especificações, e confesso que esse me assustou, unia os sistemas SNTA, HF e UVLS. Puta que o pariu, esse deve ser capaz de matar a própria molécula de água.
Os preços partiam de um minímo de 180 reais e superavam os 400 reais. A eficiência assegurada era a mesma em todos os casos, 99% para micro-organismos e impurezas sólidas e um pouco menos - 97, 98% - para cloro, pesticidas e metais pesados.
Fiquei apavorado. Se para obter uma água limpa, eu precisava de, no minímo, um tubo de polipropileno com carvão ativado e prata coloidal, eu estava fodido, verdadeiramente fodido. Afinal, eu uso, e sempre usei, o bom e velho filtro de barro.
Cheguei em casa e corri à net, pesquisar a eficiência do meu modesto e nada tecnológico filtro de barro. Pois bem, pasmem ou não, o filtro de barro demonstra uma eficiência de 99%em remover micro-organismos e resíduos sólidos e de 95 a 98% em eliminar cloro, pesticidas e metais pesados. Ou seja: exatamente a mesma coisa.
O filtro de barro é simples, grosseiro, rústico, porém altamente eficiente. Assim como eu.
Achei, inclusive, um site inglês - cuja tradução do nome seria "coisas simples que funcionam" - que lista artefatos do mundo inteiro que atendem a esses requisitos, simplicidade e funcionalidade. E não é que o brasileiro filtro de barro está lá?
Além de similar eficiência, existem inúmeras outras vantagens no filtro de barro, a começar do preço, algo em torno de 40 reais contra os 200 ou 300 das pratas coloidais importadas, ao comprar o filtro de barro, você não enche os bolsos das multinacionais.
A durabilidade também é superior, podendo atingir décadas de bom uso; quando jogado fora, por ser barro, é degradado e reabsorvido rapidamente pelo ambiente; a água dentro dele é sempre mais fresca, pois permite a evaporação das moléculas com maior energia através de suas paredes porosas; algumas argilas têm propriedades medicinais e são capazes de transmitir vibrações eletromagnéticas para a água e consequentemente para quem a consome; os minerais do barro que são percolados pela água também são de valia para as funções hepáticas e renais.
Tem mais : o filtro de barro não tem luzinhas multicoloridas e piscantes, não parece um painel de avião de tantos botões, não tem caninho entrando aqui e tubinho saindo acolá, não dá problema na rebimboca da parafuseta e qualquer um pode "instalar" e dar a adequada manutenção, ou seja, o filtro de barro, além de tudo, é isento de frescuras e viadagens, é o purificador do macho por excelência!
O filtro de barro tem o charme e a sedução das coisas artesanais, é classudo, é um clássico, é cult.
Assim como eu.

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