Uma Saúde de Aço !

A partir do nascimento do meu filho, em 2009, comecei a me preocupar um pouco mais com a minha saúde. Não a ponto de mudar minhas práticas alimentares - tornar-me vegetariano, vegano ou qualquer outra dessas viadagens -, ou de me tornar adepto de exercícios físicos - frequentar uma academia ou, pãããããta que o pariu, uma gaiola das loucas que é um celeiro de crossfit -, mas passei a monitorá-la com mais constância, a vigiá-la mais de perto. Com filho pra criar, não podia mais me dar ao luxo de morrer. E mesmo porque já passara dos 40 anos à epoca. 
Habituei-me, pois, a visitar, desde 2010, em todo janeiro, o temido urologista. Que pede sempre lá aquela batelada de exames de sangue e de urina. Hemograma, colesterol, triglicérides, creatinina, glicemia, testosterona e, claro, aquele que tem o poder de ou nos absolver, ou nos condenar a uma dedada no toba, o PSA (antígeno prostático específico).
Neste ano, ele incluiu um exame inédito ao já corriqueiros : o Gama GT, que quantifica os níveis da enzima gamaglutamil transferase produzida pelo amigo de todas as horas, o fígado. Alterações nos níveis dessa enzima podem indicar hepatites virais, obstrução biliar, tumores hepáticos e a apocalíptica cirrose, o fim de quem ama. Mesmo que a cirrose ainda não exista, o exame é capaz de indicar consumos excessivos de álcool e outras drogas, que são prenúncios de seu possível advento.
No decorrer de todos esses anos, ele sempre me pergunta sobre a minha alimentação, sobre o meu consumo diário de água, se tenho alguma atividade física regular, se sinto dificuldades de micção, se percebo, ainda que vez em quando, a presença de sangue na urina ou no esperma e, por último, se minhas ereções continuam satisfatórias.
Nunca me perguntou, nem desta vez, a respeito do meu consumo alcoólico. Nem mesmo se eu bebo, ou o quanto. Talvez por delicadeza. Mais provavelmente por saber da inutilidade da pergunta. Do alto de suas décadas de experiência e também baseado na resposta positiva que eu sempre dou à pergunta sobre as ereções, ele sabe, assim como o inigualável dr. Gregory House, que todo mundo mente.
Achou melhor pedir logo o exame Gama GT e evitar, assim, um duplo constrangimento : o meu, de mentir ou, ao menos, minorar a verdade, e o dele, de fingir crer. A verdade está no sangue.
Nunca pedira o tal exame antes, por que agora? Estarei com cara de bebum? Confesso que fiquei mais ressabiado e apreensivo pelo resultado do Gama GT que pelo do PSA.
A pandemia da peste chinesa, o ficar em casa, o não ter o compromisso de responder tão prontamente ao toque de alvorada do despertador, o poder correr o risco de acordar com ligeiras ressaca e indisposição no dia seguinte, a desobrigação de me colocar pimpão e apresentável já às seis da matina, contribuíram para que eu aumentasse o meu consumo de cerveja.
Não exponencialmente. Mas sensivelmente. Não que eu tenha passado a tomar homéricos porres, porém, ao invés de, por exemplo, eu começar com minhas noturnas atividades etílicas nas quintas ou nas sextas-feiras, passei a antecipá-las, muitas vezes, para as quartas ou, mesmo, para as terças-feiras. E as habituais três ou quatro latinhas passaram a ganhar a companhia de mais duas ou três. Por vezes, até, na ausência de algum compromisso na parte da tarde, passei a pegar de um bom livro perto da hora do almoço e lê-lo na sacada do apartamento acompanhado de umas geladas.
Admito e repito :  estava bem mais curioso - se não receoso - em relação ao resultado do Gama GT que aos do PSA, do colesterol etc.
Transcorreram dez dias entre eu pegar os resultados no laboratório e a consulta de retorno no médico. A rigor, eu não olho os resultados previamente, antes de apresentá-los ao médico. Não por falta de curiosidade. Mas por ter plena consciência das minhas ignorância e limitações em corretamente interpretá-los. Se cair na tentação de abri-los e tudo estiver dentro dos conformes, dos parâmetros e das referências postulados pelo laboratório, tudo bem. E se algo não estiver, e se algum exame apresentar alteração? O quão uma alteração deve fugir das referências máximas e mínimas para ser um motivo de alarme? O que pode significar, indicar ou pressagiar essa ou aquela alteração?
Melhor não ficar com a pulga atrás da orelha e com o cu na mão por algo que pode não ser nada. E se for, posso muito bem esperar por mais uns dez ou quinze dias para saber que vou morrer.
Ontem, depositei, então, o intacto envelope com os resultados dos exames nas mãos do médico, que, com uma caneta, foi ticando item por item e narrando cada um deles. Hemácias, linfócitos e plaquetas, referência de tanto a tanto, as suas, tanto; glicemia, referências de tanto a tanto, a sua, tanto; colesterol, referências de tanto a tanto, o seu, tanto; testosterona, referências de tanto a tanto, a sua, tanto... até chegar, enfim, ao Gama GT : referências de 12,5 a 56 U/l, o seu, 19 U/l.  Ainda revelou mais uma meia dúzia de outros componentes do sangue e da urina, mas eu nem o ouvia mais.
Finalizou a consulta dizendo : parabéns, o senhor tem uma saúde de aço! Pããããããta que o pariu!!!! 

19 U/l dentro de uma normalidade que se estende de 12,5 a 56 U/l. Meu bom amigo fígado está zero bala. Como que saído hoje de fábrica. Praticamente uma virgem intocada! 
Valha-me São Luizão!!!! O Baco brasileiro! O santo padroeiro e protetor dos bebuns e entornadores em geral!
Na volta, no caminho para casa, já passei por uma loja de conveniência e comprei quatro latões. Da cerveja Lokal, R$ 1,99 a unidade. Para comemorar. 

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8 Comentários

  1. Kkkkkkkkk
    Parece eu em meus exames de glicemia com a consciência suja pelo consumo excessivo de açúcar. Enquanto o medidor não mostra o resultado, meus pensamentos são: "eu juro que vou manerar, eu juro".
    Glória a Deus sempre (por enquanto) o resultado é dentro dos padrões, e pra comemorar a euforia e gratidão, eu como um docinho pra me aliviar, hahah.

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    1. Pois é, se houvesse um exame que medisse os níveis de vergonha na cara, os meus estariam infinitamente abaixo da referência mínima.

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    1. Parece que sim. Acho que estou com uma boa margem de segurança.

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  3. Parabéns por sua saúde de aço, ainda mais após os 40 anos.

    "Estarei com cara de bebum?"
    - Não é algo improvável. Mas se for, é positivo. Homens com cara de bêbados costumam manter à distâncias os demais. É sempre bom ser repulsivo, nas ruas, no mundo atual.

    "Não que eu tenha passado a tomar homéricos porres"
    - Já tomei regulamente e minhas enzimas foram para as alturas. Esses exames ficavam loucos. Estava a um passo de ferrar de vez meu fígado. Fui advertido sobre a cirrose. Hoje, me contenho.

    Continue se cuidado. Quem tem filho para criar não pode se dar ao luxo básico de morrer.

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    1. "É sempre bom ser repulsivo, nas ruas, no mundo atual". Verdade, meu caro, verdade. Além do quê, nessa pandemia cultivei uma barba de ermitão. Há umas duas semanas - e é a pura verdade, não tô inventando -, precisei dar uma chegado ao centro da cidade. No caminho passo por debaixo de um viaduto que serve de teto para alguns mendigos. Quando eu passei, um deles falou : tá com uma barba da hora, hein? Pããããããta que o pariu!!!! O mendigo ficou com inveja da minha barba!
      Claro que esse visual pode também ser repulsivo para a mulherada, mas também é bom que assim seja. Assim não preciso resistir a eventuais tentações.
      Abraço.

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    2. "Claro que esse visual pode também ser repulsivo para a mulherada"

      Sei não... Mulher se amarra em cara com jeito de bandido/de rua/mais malandro. Desde que voltei ao meu jeito de ser de quando era mais jovem (desleixado com roupas alinhadas), usando calças tipo moletom das antigas (com direito às listras laterais), camisetas regatas, bastante bermudão, raspei de vez a cabeça e fiz 36 tatuagens (sim, 36), as mulheres começaram a me dar mais mole ainda, especialmente as mais jovens.
      Estava com uma novinha no motel (que tinha namorado da idade dela, aliás) e após levar uma surra de xota da mini-chifreira, ela olhou admirada para mim e disse: você tá parecendo um bandidão, sabia? E outros exemplos não faltam.
      Enfim: aspecto rude afasta os malas e atrai o mulheril. Vai por mim!

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  4. Só posso te deixar um slogan: O latão é de alumínio mas a saúde é de aço!

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