O herói está velho.
Caquético, patético
E senil,
Dizem as despeitadas mocinhas indefesas de plantão
(também já não tão mocinhas assim)
Às quais o herói não mais socorre,
Não mais lhes dá o prazer de sua presença,
Ignora as suas urgências.
O velho herói,
Dizem estas desdenhosas,
Hoje,
Só gosta de vestir seu uniforme às escondidas,
Quando ninguém está a vê-lo.
Uniforme roto,
Difamam estas que foram preteridas pelo velho herói.
Seu uniforme,
Maledizem,
Uma ceroula frouxa e furada nos fundilhos.
O herói está velho. É fato.
Senil?
Nada mais fake news.
O velho herói está mais poderoso que nunca,
Achou quem valha a pena
Verdadeiramente defender.
"We don't need another hero",
Grita uma antiga canção ianque.
O velho herói é que não precisa da humanidade.
Só precisa de um único protegido.
A cada velho herói basta uma Lois Lane.
O velho herói
Hoje, só atende a um único chamado,
Ao grito de "pai"
Que o filho lhe lança de madrugada de dentro de seu pesadelo.
Atende, hoje, o velho herói
A um único chamamento,
Ao bat-sinal do choro febril de seu rebento.
O velho herói não outorgou
A salvaguarda de seus filhos a outros heróis
- avós, tios e outros assemelhados de boa vontade -
Para continuar com seus egoístas saltos pelos telhados e pelas madrugadas.
Outra calúnia :
Não, o velho herói não veste seu uniforme às escondidas,
Tampouco antepasto de traças sua égide e seu emblema se tornaram.
O velho herói não veste mais o seu uniforme
(ele está mais brilhante e bem passado do que antes),
O faz de cobertor, de casamata, de casulo para o filho,
Para aninhar e confortar o seu sono aquecido e tranquilo.
O velho herói olha para o seu uniforme feito em afeto
E não consegue lhe imaginar um melhor uso.
Não consegue conceber um maior ato de heroísmo.
2 Comentários
Bela poesia. Construída e marinada por décadas, eu diria.
ResponderExcluirComovente, Marreta, comovente!
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