Olho para o Céu,
Que troca de pele,
De roupa,
Que se veste de gala
Para o baile das corujas,
Dos morcegos,
Dos sacis.
Ele ri de minhas asas flácidas e impotentes;
São apenas 8 da noite, todas as obrigações do dia já foram cumpridas.
Olho para as ruas,
Apagando seus neons comerciais,
Botando seus chineses para dormir,
E acendendo seus vaga-lumes de vapor de sódio,
Convocando curupiras e mariposas
Para uma procissão em seus asfaltos esburacados,
Em seus paralelepípedos imperiais.
Elas riem de meus pés artríticos,
De minhas sandálias de Hermes depenadas,
De minha sombra de bengala;
São apenas 8 da noite, todas as providências e todos os preparativos para o dia seguinte já estão planejados.
Olho para uma velha foto - não minha - de mim,
De muitos preto-e-brancos atrás.
O moleque nela,
Já de sorriso trancado
E de olhos embaciados,
Me pergunta :
"Que merda você aprontou comigo"?;
São apenas 8 da noite, e não há mais nada a ser feito,
São apenas 8 da noite, e não há nada mais que eu possa fazer.
2 Comentários
Você tem duas características que admiro muito. Uma delas é o sarcasmo afiadíssimo que sempre me faz rir muito. A outra é uma capacidade incrível de criar belas e inesperadas imagens com palavras comuns e cenas banais do dia a dia. "De muitos preto-e-brancos atrás" é um achado fantástico. Muito bom! (também gostei muito dos links).
ResponderExcluirAcredito que o meu sarcasmo faça algumas pessoas rirem, justamente, por ter a mim mesmo como alvo, uma autoironia.
ResponderExcluirO que me resta é trabalhar com o pouco que tenho, palavras comuns e cenas corriqueiras. Já assistiu ao filme A Vida é Bela?
Em tempo : nem precisava dizer que gostou dos links.