Stephen Fry Diz Que Deus é Monstruoso, Egoísta e Maníaco

O ator britânico Stephen Fry é ateu, dos legítimos, dos das antigas, assumidíssimo. E quando alguém se assume publicamente como ateu, os dependentes da fé, os viciados em deus - a droga alucinógena mais poderosa de todas; LSD, louvado seja deus -, não lhe dão sossego, não perdem a chance de espezinhar o ateu, de querer empurrar deus goela herege abaixo, de cutucar o ateu com a vara do pensamento curto.
Em um programa televisivo irlandês, o entrevistador, provavelmente um católico mal-intencionado a querer colocar o ator numa saia justa, perguntou a Fry o que ele diria a deus caso fosse colocado diante Dele.
Fry, como bom ateu, não se intimidou, não pôs papas à língua, não tentou ser polido nem politicamente correto, e, com toda a fleuma britânica que lhe é peculiar, abriu o verbo, e o verbo de Fry se fez em pura marreta. Visivelmente inflamado pela pergunta idiota que o levava a fazer uma suposição mais idiota ainda, a de que deus existe, disse que, se Deus existisse, diria a Ele que é “monstruoso”, “egoísta” e “maníaco”. 
Falaria também: “Como você se atreve a criar um mundo em que há tanta miséria que não é nossa culpa? Não está certo. Você é absolutamente mal. Por que eu deveria respeitar um Deus caprichoso e estúpido que cria um mundo tão cheio de injustiça e dor? Câncer ósseo em crianças? Por que você está fazendo isso? Sim, o mundo é esplêndido, mas também tem insetos que se introduzem nos olhos das crianças, tornando-as cegas. Elas comem os olhos de dentro para fora. Por quê? Por que você fez isso com a gente? Você poderia facilmente ter feito uma criação em que isso não existe”. E ainda temos de passar a nossa vida de joelhos agradecendo-lhe?! Que tipo de Deus faria isso?"
É o famoso Paradoxo de Epicuro, um trilema : 1) enquanto onisciente e onipotente, deus tem conhecimento de todo o mal e poder para acabar com ele. Mas não o faz. Então não é onibenevolente; 2) enquanto onipotente e onibenevolente, então tem poder para extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto mal existe e onde o mal está. Então ele não é onisciente; 3) enquanto onisciente e onibenevolente, então sabe de todo o mal que existe e quer mudá-lo. Mas não o faz, pois não é capaz. Então ele não é onipotente.
Sou ateu, também das antigas, não desses neoateusinhos de merda, discípulos de Richard Dawkins, uma molecada que resolveu rejeitar deus (o que é muito diferente de não crer), ficar de mal do todo-poderoso porque Ele não lhes dá as roupas de grife que querem, ou um novo modelo de celular, ou o namoradinho (a) que tanto amam. 
Sou ateu, de nascença, de DNA. Todavia, não concordo muito Stephen Fry. Nem com Epicuro. 
SE (um SE bem grande) deus existisse, ele não seria mau nem bom, que mau ou bom são conceitos criados pelos humanos e, portanto, só a eles aplicáveis. Para mim, esse deus judaico-cristão, supondo sua existência e que tenhamos por ele sido criados, está mais para indiferente, ou seja, tá cagando e andando pra humanidade. 
Dizer que ele pratica maldades conosco é, ainda que de uma forma torta e masoquista, considerar que ele pensa em nós, que ele gasta um tempinho de seu infinito tempo a planejar suplícios para jogar sobre nossas cabeças; é, ainda que de uma forma das mais doentes, achar que ele nos dá alguma atenção. Deus (ainda supondo que ele exista) não provoca câncer ósseo em crianças, caro Stephen, apenas deixa o câncer se manifestar livremente, apenas pouco se Lhe dá que o câncer se alastre em quem quer que seja, aliás, nem sabe se o câncer acomete ou não os pueris ossinhos, duvido mesmo que saiba o que é um câncer. Não sabe e nem quer saber. 
O tal do livre-arbítrio já não nos dá uma boa dica desse desdém divino? O que é o livre-arbítrio se não o pai que dá a emancipação legal ao filho? O cara tá dizendo, te vira, malandro, doravante, estás por conta própria, fazes o que queres, mas não venhas mais me aporrinhar para que te livres das consequências das tuas cagadas. Ou seja, ao dar o livre-arbítrio ao ser humano, Deus disse : "Fui!"
Portanto, caro Stephen, nem monstruoso nem maníaco nem egoísta. Nem bom nem mau.
Indiferente. Ausente. E, lógico, inexistente.
Em tempo : fica aqui uma dica, assistam ao filme Wilde, protagonizado por Fry. Fora o inquestionável talento, é impressionante a caracterização e a semelhança física de Fry com o gênio Oscar Wilde.

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