Lactoxavasccus Vivos

Quando de minha infância, há coisa de 40 e poucos anos, felizmente não havia a criminosa publicidade infantil - arma a lavar pueris cérebros e a pilhar paternos bolsos.
Ainda assim, volta e meia, um produto se tornava sucesso de público e de vendas, a divulgação do produto se dava através da aprovação popular e da mais honesta e confiável das propagandas, o boca-a-boca, uma moda que independia da televisão, já existente à época, é verdade, porém, ainda ausente na maioria dos lares.
O leite fermentado Yakult com lactobacilos vivos, indicado para bem compor a flora intestinal da meninada, foi um desses fenômenos do boca-a-boca. Uma amiga o recomendava a outra amiga; uma vizinha, a outra vizinha (era época em que vizinhos se falavam aos portões, às calçadas, nas feiras livres, por sobre os muros das casas; para o bem e para o mal); as professoras, às mães de seus pupilos; lembro-me, inclusive, de que, em certo dia da semana, havia Yakult na merenda escolar.
A popularidade do Yakult se fez tanta que, ao sorveteiro com sua gaita de Pã, a fazer-se seguir pela molecada de Hamelin, e ao vendedor de algodão-doce, fiandeiro de diáfanos e açucarados sonhos, juntou-se, ao imaginário da criançada, outra muito aguardada figura : a da moça do Yakult.
Ela surgia semanalmente a conduzir seu carrinho refrigerado, batia de porta em porta e deixava pequenos fardos de saúde fermentada; uns com 6, outros com 12 pequenos frascos de conteúdo bege. E o melhor é que a moça do Yakult e seu elixir eram também benquistos pelas mães, diferente da água com anilina e do nocivo açúcar em fios vendidos, respectivamente, pelo sorveteiro e pelo homem do algodão-doce. Todos ficavam felizes com a moça do Yakult, uma espécie de sorveteira probiótica.
O tempo - esse hábil engenheiro e igualmente exímio demolidor - passou, mudamo-nos para um novo e distante bairro, talvez, supunha eu, inalcançável para as pernas da moça do Yakult. Meus pais continuaram ainda a nos abastecer, a mim e à minha irmã, com suprimentos regulares de Yakult, porém, adquiridos em supermercados; muito do gosto do Yakult se perdeu pela ausência da moça do Yakult, mas seu efeito terapêutico se mantinha, função sem alegria, bactérias burocráticas, enfim.
Então, chegou o fatídico dia em que fomos informados de que não mais precisávamos de Yakult (não precisávamos, quem, cara-pálida?), de que ele sairia de nossos cafés da manhã, de nossos lanches, de nossas sessões da tarde. Não éramos mais crianças, e só a elas o Yakult era destinado.
Hoje - dei uma pesquisada no site do Yakult antes de escrever essa postagem -, vejo que nosso Yakult não foi cortado por sovinice paterna ou materna; o próprio fabricante o recomenda apenas para crianças.
Crescemos, pois, órfãos do Yakult e da moça do Yakult, toda uma geração de constipados - afinal, onde adultos poderiam obter suprimento de lactobacillus
A resposta é : na moça do Yakult! E o melhor : toda moça é uma moça do Yakult! Toda mulher é inesgotável cornucópia de lactobacillus - bactérias que conseguem atravessar, vivas e incólumes, o fosso de ácido clorídrico do estômago e se instalar no intestino, em cujas vilosidades, via fermentação, produzem ácido láctico, que torna o meio fértil e propício à proliferação das bactérias de nossa flora íntima e pessoal, do nosso jardim de inverno.
A vagina é um enorme (umas mais enormes que outras) biotério de bactérias do gênero lactobacillus. É o Yakult da xavasca! São o lactoxavasccus vivos.
Foi o que constatou Cecilia Westbrook, estudante de doutorado da Universidade de Wisconsin (EUA). Através da análise de material colhido da própria vagina, ela verificou que os lactobacillus são o gênero de bactérias mais comuns da casa do caralho. E pensou : por que não fabricar um iogurte pessoal e intransferível? Uma coalhada customizada?
Cecilia usou três recipientes em seu afrodisíaco experimento : no primeiro, colocou apenas leite, sua amostra de controle; no segundo, leite com uma cultura tradicional de lactobacillus; e na terceiro, leite com os lactoxavasccus. Deixou as amostras à temperatura ambiente e foi dormir; ao acordar, surpresa!, a maior quantidade de iogurte fora formada na cultura de lactoxavasccus vivos.
Era chegada a hora da prova dos nove. Cecilia misturou umas frutinhas lá deles - cranberrys, blueberrys, chuckberrys etc - ao iogurte, degustou-o e descreveu o "bouquet" : "azedo e com um aroma especial, deixando um leve formigamento na língua".
Pãããããta que o pariu!!! Aroma especial? Adoro e odeio esse eufemismo ianque, esse politicamente correto norte-americano. Formigamento na língua? Sempre achei, quando me sirvo dos lactoxavasccus in natura, que fosse o início de uma cãibra na língua.
Larry Forney, microbiologista do mesmo departamento de Cecilia, adverte : não é aconselhável ingerir bactérias vaginais, sob o risco de contrair más cepas. Por acaso, algum macho das antigas já passou mal depois de lamber uma buceta? Deve ser uma bichona enrustida, esse Forney; deve é gostar de lactorolludus erectus.
Portanto, machos de plantão, saudosos do Yakult, nossos problemas terminaram. Usemos, abusemos e nos lambuzemos de lactoxavasccus vivos. Lamber uma boa buça gosmenta é melhor que lactopurga e activia! Lamber, meter e bem cagar... o que é a vida, além disso? O que mais alguém pode querer?
Às mães dos pequenos machos desse nosso Brasil cada vez menos varonil, fica o conselho do Azarão, deemYakult às mancheias para seus pequenos varões, condicionem-os ao gosto azedo do produto dos lactobacillus, para que, nostálgicos, quando adultos, procurem pelos lactoxavasccus.
O Yakult, portanto, pode ser não só a solução para a merda empedrada, como também para a viadagem galopante. É o Yakult feito em profilaxia contra a boiolagem!
Cecilia Westbrook e o iogurte de xavasca

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