Exame de Próstata do Gaúcho (Ou : o Dedo Bandido)

A prosseguir com minha sacrossanta e incansável cruzada pela divulgação do bom folclore brasileiro, em contraposição aos raloins da vida, trago-vos hoje uma pérola da lírica regional do rio grande do sul, uma poesia das mais representativas acerca da alma calejada - não obstante, sensível - do homem dos Pampas.
Sim, porque folclore não é só o Saci, a Cuca, a Mula-sem-cabeça e outras lendas, explicações de cunho mágico e fantástico para os mistérios do mundo que nos rodeia; folclore é também a música tradicional de um povo, suas danças, suas vestimentas e cozinhas típicas, artesanato, jogos e brincadeiras, produção literária etc, ou seja, é o conjunto dos costumes e tradições de um povo, ou de uma região.
O poema a seguir, de autoria do poeta tradicionalista gaúcho Mano de Lima, de São Pedro do Sul (RS), é a quintessência do gaudério, do centauro dos pampas, a mais perfeita tradução do gaúcho macho, esse ser também folclórico e lendário.
Exame de Próstata (o dedo bandido)
(Mano de Lima)
Andava mijando errado
Com as urina em atraso
Era uma gota no vaso
Três ou quatro na lajota
Quando não era nas bota
Na bombacha ou nos carpim
Eu mesmo, mijando em mim
Que tamanha porcaria
E o meu tico parecia
Uma mangueira de jardim

O pensamento mandava
O pau não obedecia
Quando a bexiga se enchia
Eu mijava à prestação
Pro banheiro, em procissão
Uma ida atrás da ôtra
Numa mijada marota
Contrastando com meu zelo
Pra beber, era um camelo
E pra mijar, um conta-gota

Depois de passar um bom tempo
Convivendo com esse horror
Me fui atrás de um doutor
Que atendesse meu pedido
Me desse algum comprimido
Pra mim empurrar goela abaixo
Tenho certeza, não acho,
Que bem antes que eu prossiga
É importante que eu diga
Que não deixei de ser macho

Mas buenas, voltando ao causo
Que é natural que eu reclame
Depois de um monte de exame
De urina e ecografia
E até fotografia
Da minha arma de trepá
 
Me obrigaro desaguá
Ajoelhado num pinico
E me enfiaro um troço no tico
Que me dói só de lembrá
Ainda dei o meu sangue
Pros vampiro diplomado
Pensei que tinha acabado
Só me faltava a receita
já tinha uma idéia feita
Me trato e adeus, doutor
Recupero o mijador
Nem sonhava em concluir
Que alguém iria invadir
Meu buraco cagador
 
Fiquei bem contrariado
Tomei um baita dum choque
Quando me falaram em toque
Achei bem desagradável
Pra um macho é coisa impensável
Um dedão campeando vaga
No lugar que a gente caga
Vejam só o meu dilema :
O pau é que dá problema
E o meu cú é que paga

Tentei todos argumentos
Me esquivei o quanto pude
Mas se é pra o bem da saúde
Não deve me fazer mal
Expor assim meu anal
Fazer papel de mulher
Nem tudo que a gente quer
Tá de acordo com os planos
Fui derrubando meus panos
E se salve quem puder
 
De cotovelo na mesa
A bunda véia empinada
No cú não passava nada
Nem piscava de apertado
Mas era um dedo treinado
Acostumado na bosta
E eu, que nunca dei as costa
Pra desaforo de macho,
Pensava, de pinto baixo,
O pior é se a gente gosta

Pra mim foi mais que um estupro
Aquilo me entrou ardendo
E então eu fiquei sabendo
Como  se caga pra dentro
Aquele dedo nojento
Me atolando sem piedade
Me judiou barbaridade
Que alívio quando saiu
Garanto pra quem não viu
Que não vou sentir saudade
Enfiei a roupa ligeiro
Com vergonha e desconfiado
Vai que o doutor abusado
Sem pena das minhas prega
Chamasse um outro colega
Pra uma segunda opinião
Apertei o cinturão
Fiz uma cara de brabo
Dois mexendo no meu rabo
Aí seria diversão

Depois daquela tragédia
Que pior pra mim não tem
Não comentei com ninguém
Pra evitar o falatório
Se alguém fala em consultório
Me bate um pouco de medo
Não faço nenhum segredo
Dessa macheza que eu trago
Mas cada vez que eu cago
Me lembro daquele dedo

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2 Comentários

  1. Ri pra caramba! Pra Bernardo Guimarães nenhum botar defeito.

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  2. Eu caí na besteira de ler este texto jantando... resultado...me engasguei de tanto rir.

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