Não é Carnaval, Mas é Madrugada (14)

Carnaval é época de euforia, de carnalidades, de novos amores. Por isso, também é tempo de traições. E Chico Buarque compôs uma das mais belas canções de perfídia de nossos carnavais. Nem é só a traição da mulher ao seu homem, é a infidelidade da cabrocha à sua escola, ao seu próprio sangue, samba, seiva. É a deslealdade da porta-bandeira que troca a avenida pela galeria, pelo camarote, provavelmente bancada por um coroa rico.
A canção Quem Te Viu, Quem Te Vê é o lamento do corno, o desabafo do mestre-sala que marcava seu samba na cadência dos passos da infiel cabrocha, que a vestia de dourado pra que o povo admirasse. 
Mas o corno não perde a pose nem a classe, mantém-se altaneiro, sustenta feito um Atlas o peso dos chifres e dá uns belos tapas com luva de pelica na vagabunda : "Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia Quem brincava de princesa acostumou na fantasia"; "Se você sentir saudade, por favor não dê na vista Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista"
Faz de conta que é turista... É pra fazer qualquer puta chorar por onde mais lhe dói a saudade. É o Chico!
Quem Te Viu, Quem Te Vê
(Chico Buarque)
Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua


Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer


Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado


Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer


O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão


Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer


Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia


Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer


Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista


Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Postar um comentário

1 Comentários

  1. carnaval é um grande barato, apesar das escolas de samba "ostentação" do Rio e São Paulo. O que elas tem de melhor são algumas mulheres tesudíssimas e pouquissimamente vestidas (ou generosamente despidas). Essas, em lugar de fazer o estilo "ostentação, fazem mesmo é o gênero "Ô tentação!"

    ResponderExcluir