Sinal Fechado

Manhã
Bem de manhã
Hora em que a coruja e o galo
Trocam de turno.
Hora em que só as pessoas
- E outros animais irracionais -
Estão despertas e de pé,
Pro dia nascer infeliz.
Carros, ônibus, bicicletas
Caminhões, pedestres e cavalgaduras
- principalmente cavalgaduras -
Se cruzam, se esbarram
Compartilham seu fedor
Sorriem hostilidades
E rosnam seus bons-dias uns para os outros.
Disputam espaço,
Impõem suas pressas, suas velocidades
Pisam em cabeças, chutam bagos.
E o semáforo está fechado para mim.
Logo hoje
Que já à rua me pus em atraso
E que meu joelho podre
E que meu tendão de Aquiles - obviamente - fraco
Me impedem de passos mais rápidos e anchos
E de ultrapassar os ponteiros do relógio.
O semáforo está fechado para mim.
Sem o quê, paro.
Respiro
Tomo o último trago de minha lata de cerveja
Meu cereal matinal
Meu pão da bavária.
Olho para o rio - uma carpa branca
Com um pouco de cuspe, removo uma remela do olho esquerdo
Futuco o nariz
Puxo o cós da calça para cima
Verifico a braguilha
E,
De uma maneira que imagino
Sutil e imperceptível,
Dou uma bela de uma coçada no cu
Coço com gosto.
Estou preparado e recomposto
Para mais um dia.

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