Em Nome de Jesus, Mulher, Me Faça Um Boquete

Sou ateu. Não de caso pensado. Não de múltiplas leituras filosóficas e/ou teológicas que tenham me conduzido à conclusão de que não existe um deus.
Ateu de nascença, mesmo. Eu já era ateu antes mesmo de alguém dizer que eu era, antes mesmo de saber da existência teórica de deus.
Não sinto - nunca senti - a onipresença toda-poderosa desse ser - muito mais que invisível, improvável.
Há - e são a maioria - os que sentem esse deus a reger o Universo e, com mesmo afinco e desvelo, as suas vidas e seus problemas pessoais. Ou que, pelo menos, dizem sentir, acreditam sentir, foram condicionados a pensar que sim, induzidos a ver manifestações desse deus em tudo que os rodeia.
Até aí, tudo bem. Não tenho nada a ver com isso, cada um que pense e que acredite no que quiser. Cada um que lide - sofra ou se reconforte - com sua percepção de mundo.
É como bem já disse meu velho camarada, freguês das antigas, o dr. Gregory House : "se você fala com deus, você é uma pessoa religiosa; se deus fala com você, você é um esquizofrênico".
Mas isso, louvar um ser inexistente, nem é o pior, nem é o mais estranho. Pior é acreditar que esse ser todo-poderoso tenha nomeado representantes terrenos - padres, pastores, rabinos, faraós, ou quem quer que seja - e lhes delegado poderes de representação, que tenha lhes passado uma procuração para falar em seu nome, que os tenha sacramentado como seus porta-vozes. Pior é acreditar que esse deus tenha autorizado uns poucos escolhidos a abrir franquias de seu nome - as religiões, os Mc Donald's de deus.
Pior que acreditar em deus, é acreditar nas religiões. Deus é bondoso, dizem as religiões, mas seus livros sagrados o mostram rancoroso, iracundo, vingativo, genocida. E misógino. Sim, deus detesta as mulheres, nutre-lhes profundo desprezo e aversão, considera-lhes uma sub-raça.
Isso é o pior de tudo : as mulheres. Como podem as mulheres adorar um deus e seguir religiões que as colocam sempre como seres inferiores?  Há um sem-número de trechos bíblicos em que as mulheres são expostas a situações de humilhação e de aviltamento. Para a Bíblia, a mulher é o receptáculo do capeta, é o excipiente dos males da humanidade, a fonte de todos os pecados, é suja. A Bíblia coloca a mulher em total submissão ao homem, como lhes fosse uma virtude.
Vejamos apenas alguns que pesquei pela net :
"A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição". 1 Timóteo 2:1;
"Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem". 1 Coríntios 11:8;
"Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio". 1 Timóteo 2:1;
Efésios, 5 
22 Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao Senhor;
23 porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo.
24 Mas, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos.
Colossenses, 3 
18 Vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos, como convém no Senhor."

Inspirada por tão valorosos e, até mesmo, lúdicos ensinamentos, Constanza Miriano, católica fervorosa, escreveu o livro Cásate y sé sumisa (Case e seja submissa), em cujas páginas atualiza tais preceitos bíblicos, adapta-os para o cotidiano da dinâmica e moderna mulher do século XXI; utilizando-se de situações corriqueiras, ela dá exemplos práticos de como aplicá-los em favor da boa manutenção do matrimônio. Em linguagem atual, coloquial e descomplicada, Constanza torna mais inteligíveis os, muitas vezes escritos de forma hermética, ensinamentos de deus.
E o livro está tão de acordo com os ditames da igreja católica que sua publicação foi assumida pelo Arcebispado de Granada (Espanha), sob o comando do arcebispo D. Francisco Javier Martinez
O livro se pretende um manual de instruções para as mulheres casadas do século XXI bem conservarem seus matrimônios, e dá conselhos preciosos para tal : 
"Deus colocou-te ao lado do teu marido, esse santo que te suporta apesar de tudo. Obedece-lhe e submete-te com confiança".
Constanza ainda dá conselhos às mulheres de como aproveitar o tempo de maneira produtiva: “Sê uma mulher do século XXI. Pratica o coito de costas. Assim, entretanto, podes aproveitar para passar a ferro” 
Isso é que é ser uma mulher multitarefa. Enquanto dá o rabicó, vai passando a roupa do marido. Levando ferro e passando o ferro : isso sim que é igualdade de direitos, isso sim é o que eu chamo de uma justa divisão de tarefas.
A publicação do livro Cásate y sé sumisa, em dezembro do ano passado, causou muita polêmica em torno do arcebispo D. Francisco, que, apesar de não ser o autor do livro, avalizou a publicação, o que pode dar margem à interpretação de que os conselhos são um item da doutrina da Igreja Católica.
Mas parece que o arcebispo não tá nem aí, que tá cagando e andando para a língua do povo. Tanto que voltou a provocar celeuma. Durante uma missa, tomando para si as palavras do livro de Constanza Miriano, ele tirou todas as dúvidas de suas fiéis em relação ao sexo oral, orientou-as na prática da chupeta sem pecado, do boquete cristão:
“Mulher, praticarás felatio ao teu marido sempre que ele te ordenar. Mas, quando o fizeres, pensa em Jesus. Recorda-te: não és uma pervertida!”
Puta merda! Deixa ver se eu entendi. Se a mulher fizer um boquete no marido pensando no marido, ela é uma pervertida, uma pecadora irrecuperável, digna de apedrejamento em praça pública; se, no entanto,  fizer uma gulosa na rola do cônjuge e estiver pensando em Cristo, ela é uma virtuosa, recebe da igreja um atestado de boa conduta e sanidade mental. É isso?
Será que o mesmo vale para a punheta? Será que quando o arcebispo toca sua punhetinha, ele também está a pensar no Cristo, pregado na cruz, seminu, todo suado? 
Cuidado, molecada! Bater punheta vendo revistas e filmes pornô, ou pensando na vizinha gostosa, ou na colega peituda da escola, é pecado mortal, deus tá vendo, faz crescer cabelo na mão, deixa retardado. Se pensar em Cristo, tá perdoado.
Portanto, quando forem tocar suas bronhas, elevem seus pensamentos a Cristo, rendam suas "homenagens" ao Nazareno. Afinal, vocês não são uns pervertidos, uns degenerados, não é?
 O arcebispo Francisco Javier Martinez e o livro Cásate y sé sumisa

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1 Comentários

  1. Religião nos trouxe mortes, destruição, divisão, diferenças, controle, ganancia e alienação, sem mais.

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