Cartão-Postal

Eu já conheci
Todos os telhados
De todos os  prédios da cidade.
Fui seus zeladores,
Suas antenas, seus gatos no cio
Suas rachaduras, suas goteiras
Seus desabamentos.

Eu já marquei território
Por todas as suas ruas,
Por todas vielas e travessas de basalto do velho centro.
Mijei, vomitei, chorei,
Inundei todos os seus bueiros e galerias pluviais.
Deixei mais garrafas vazias pelas suas calçadas
Que cães deixam merda.

Hoje,
Olho-a como a uma paisagem de um outro país,
Sem som, sem cheiro, sem dor.
Como um velho caduco a uma foto da primeira namorada,
Mais um registro histórico que propriamente uma memória,
Um amor.
Como um turista em minha própria casa.

Hoje, 
Eu que já lhe fui relevo,
Terremoto,
Cordilheira,
Coágulo,
Atmosfera,
Estio e monção,
Olho-a, 
Bêbado,
De minha sacada com tela de proteção,
No escuro,
Como olho a um slide mofado,
Como a um cartão-postal.

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