Não guardo fotos de você :
Nem em álbuns
Nem em porta-retratos
Nem dentro de livros à guisa de marcador de páginas
Nem no HD do computador
Não tenho fotos de você :
Nem em retrato 3X4
Nem nua
Nem a preto-e-branco
Nem em polaroid
Nem em pixels de alta definição.
Não guardo fotos de você.
Guardo músicas de você :
Em vinis de joelhos rangedores
Em fitas K7 de gargantas com pigarros
Em CDs
Em pen drives
Até nas nuvens.
Quando quero lembrar,
Quando quero ver você,
Não lhe olho :
Escuto-lhe.
Em uma música, você aparece mais alegre, jovial,
Em outra, mais cansada, desesperançada;
Em uma, mais magra, noutra menos,
Em uma, mais inocente, noutra, com rugas em torno do seu sorriso.
Numa música, bebemos vinho de madrugada na praça,
Noutra, convulsionamos de abstinência de nós;
Numa, lemos Sandman sentados na Biblioteca da Alexandria,
Noutra, fugimos em botes salva-vidas do naufrágio de Atlântida.
Não guardo fotos de você.
Guardo músicas.
As músicas são os rostos em color sépia que tenho de você.
4 Comentários
Poesia existencial.
ResponderExcluirSão as melhores.
Fazia tempo que eu não escrevia uma de que realmente gostasse. Deu-me satisfação ter surgido esta.
ExcluirQue bom que as Musas fizeram as pazes contigo. Ou você com elas.
ResponderExcluirOu foi um descuido delas.
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