Cerveja-Feira (78)

Esquerdista militante de carteirinha, autor de letras engajadas, panfletárias e lacradoras, o cantor e compositor Gonzaguinha, falecido aos 45 anos em acidente rodoviário, filho do Gonzagão, foi uma das figuras mais chatas, mala sem alça e intragáveis da MPB. O bicho era tão chato, mas tão chato, que a turma do Casseta e Planeta, muito antes de sua fase televisiva, quando a trupe atuava em frentes distintas, porém, unidas, parte deles no jornal O Planeta Diário, parte na revista Casseta Popular, disse uma vez : "tudo na vida tem um lado bom, menos o disco do Gonzaguinha", na época dos lados A e B dos LPs de vinil. Aliás, todo engajado é chato pra caralho. Aliás (2), mais chato que o chato que dá no caralho, que desse a gente se livra fácil, basta um pouco de Neocid. Gonzaguinha era uma espécie de Henfil da música. Um entojo.
Não obstante, tenho certa simpatia pela letra de uma (e já é muito) de suas canções, Guerreiro Menino : "...Guerreiros são pessoas,  São fortes, são frágeis, Guerreiros são meninos, No fundo do peito, Precisam de um descanso, Precisam de um remanso, Precisam de um sonho, Que os tornem perfeitos...".
Claro que a militância da época, os companheiros de "causa" e de "luta", tomaram o guerreiro da letra de Gonzaguinha como uma metáfora do trabalhador, do proletário. Assim como o indígena era tido como o "bom selvagem" por Rousseau - um ser idealizado, naturalmente bom, puro, ingênuo, incapaz de atos vis e corrompido pela civilização, pelo homem branco -, o proletário é o bom selvagem do "intelectual" vermelhoide marxista - um sujeito puro de coração, indefeso e atrozmente explorado pelo patronato capitalista. Não existem, é claro, bons selvagens nem bons proletários. Não existem seres humanos puros.
Eu já prefiro levar a letra ao pé da letra (e não das entrelinhas), embora a intenção de Gonzaguinha, muito provavelmente, tenha sido mesmo a de traçar esse paralelo entre o guerreiro e o proletário. Gosto de imaginar um antigo guerreiro bárbaro - viking ou cimério -, que sai pela manhã de sua tenda com a árdua, porém, prazerosa empreita de decepar braços, troncos e cabeças, e que, ao fim do dia, eivado de respingos coagulados do sangue inimigo e cheirando a boi almiscarado, senta-se à mesa de uma taverna com um canecão gigante de cerveja ou de hidromel na mão e com uma ruiva peitudíssima e semidesnuda no colo.
Transportando esse bárbaro para os dias e para a mitologia atuais, ele bem que poderia ser um super-herói, que sai mascarado para lutar contra o Mal, manifeste-se ele na forma de um punguista rastaquera e batedor de carteiras ou na forma de um Skrull disposto a dominar a galáxia ou de um titã cósmico com planos de aniquilar o universo. Ao fim do expediente, nada mais justo que esse guerreiro sente-se a um bar, ou a um pub, em confraria, para cantar seus feitos do dia e entornar encorpadas cervejas.
Mas 'peraí Azarão, super-heróis são modelos de virtude, não fumam, não bebem, certo? Depende. Se for o super-herói do tipo escoteiro, bonzinho, pau no cu, cagador de regras, politicamente correto, não; de fato, esse não bebe. Ninguém nunca irá ver o Capitão América, o Homem Aranha, o Super-Homem, com os cotovelos num balcão de bar. Contudo, heróis mais machos das antigas, chamados comumente de anti-heróis, sim, adoram encher a cara e fumar um bom charutão.
Entre eles, dois dos mais notórios enxugadores de cerveja do mundo das HQs : o Wolverine e o Coisa. Em volume consumido, só perdem para o Homer Simpson e a turma da Taverna do Moe.
Há tempos que eu queria dedicar um Cerveja-Feira a esses dois pavios curtos da Marvel, para os quais, está sempre "na hora do pau"! Mas nunca tinha encontrado uma ilustração dos dois entornando juntos. Então, resolvi, eu mesmo desenhá-los. Puta que o pariu, Azarão, logo você, um autodeclarado sem nenhum talento artístico, logo você que não desenha direito nem aqueles bonequinhos de "gravetos"? De uma hora pra outra, baixou o espírito do Jack Kirby e te tornaste um ás do pincel?
Porra nenhuma. Fiz o desenho com palavras. Descrevi-o num programa de imagens por Inteligência Artificial e o resultado foi o abaixo :


Gostei bastante do resultado, quisera eu desenhar assim. Embora, a IA não seja de toda infalível. O Wolverine tem uma garra a mais na mão direita e as canecas estão "flutuando", não há dedos a segurá-las pelas asas.
Mas fica o registro em homenagem a esses notórios amantes do ouro líquido.
E como hoje é sexta, já tomo umas no almoço. Hoje, estou indo de Crystal, a R$ 1,79 na rede atacadista Assaí, e tirando o gosto com um jiló em conserva. Porque, como todos que me conhecem, sabem, jiló, eu como de qualquer jeito.

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7 Comentários

  1. Pra falar a verdade, eu também não tinha notado. Um amigo para quem mandei é que notou.

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  2. Já notei que você não gosta de comentários que contrariem sua visão de mundo, chegando ao ponto de não publicá-los (eu sei do que estou falando), mas tudo bem, o blog é seu. Por isso, vou começar concordando. Nunca tive muito saco para o Gonzaguinha, especialmente em sua fase inicial. Ele parecia ser muito radical em suas convicções e, para mim, todo radical é antes de tudo um chato. Mas fez algumas músicas de que gosto muito. A melhor é Feijão Maravilha. A segunda pelo tipo de dúvida que expõe é “O Que É, O Que É”.
    Mas acho sacanagem compará-lo ao Henfil. Eu sei que o Henfil foi um dos responsáveis por detonar a carreira do Simonal, mas enquanto o Gonzaguinha era apenas um bom compositor o Henfil foi um gênio do desenho de humor, capaz de fazer as piadas mais enlouquecidas, sádicas e hilariantes até com deficientes físicos e temas hoje politicamente incorretíssimos.
    Mas vamos ao tema da cerveja-feira. O desenho ficou bacana demais. E há uma explicação científica para o fato das canecas de cerveja levitarem. É que um dos ingredientes da breja é uma tal de levedura, que as torna leves ao ponto de levedarem. Acho que agora você nem precisa publicar o comentário.

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    1. Canalhamente, Henfil quase conseguiu destruir também a Elis Regina. Um pústula.
      Rapaz, levedura foi foda !!!!!

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Concordo com o que disse do Henfil. Patrulhamento ideológico ou religioso é sempre uma merda. E eu precisava fazer algum tipo de trocadilho com a verveja flutuante. Mas o desenho ficou bom pra caralho. Você pode até criar uma dupla com a IA. Você roteiriza e ela desenha.

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    4. Se eu tivesse essa ferramenta quando adolescente, pode ter certeza de que teria feito muitas HQs com ela; na época, eu tentava desenhar uns personagens, ainda tenho alguns esboços guardados, quem sabe um dia eu não os publique aqui?

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