O Pior é Que Eles Funcionam

Não há quem possa com a engenhosidade inata do brasileiro, com a nossa malemolência, com a nossa latinidade malandra, enfim, nada no mundo se iguala ao nosso famoso "jeitinho".
Vejam com que obra-prima da moderna engenharia de tráfego eu me deparei, hoje pela manhã, no cruzamento das ruas Olavo Bilac, o poeta das estrelas, e Prudente de Morais, o terceiro presidente do Brasil.
Vejam que pérola do improviso, que joia rara da gambiarrra.


Dois semáforos cujos postes não estão cravados e fixados ao chão, ao pavimento da calçada, mas sim chumbados com cimento dentro de tambores de 180, 200l. Nada, a não ser o próprio peso dos tambores, segura os semáforos ao chão. Eles estão posicionados sobre um quadrado de madeira feito de ripas de cavaletes.
Se passam por ali dois ou três gaiatos meio bêbados, de madrugada, não tenham dúvidas, eles tentarão mudar os postes de lugar. Se tentarem, conseguirão, tranquilamente, girar os tambores. Uma tentação irresistível e um convite irrecusável a uma sacanagem, esses semáforos assim. O deslocamento só estará limitado ao comprimento dos fios que os ligam à rede elétrica. 
Sim, os semáforos estão ligados. 
Sim. E o pior : eles funcionam.
Engenheiros americanos, ingleses, japoneses e alemães estão a se roer de inveja. Como não pensaram nisso antes? Engenheiros suíços, então, estão a se enforcar pelas bolas do saco.
Quem terá sido o inovador e visionário engenheiro responsável por tal obra?
O grego Diógenes? Ou o Chaves del ocho?
Pãããããããta que o pariu!!!!
Esses semáforos me lembraram da música "Demolição" do menestrel maldito Juca Chaves, fazendo referência à queda do famoso Elevado Paulo de Frontin, em 1971, na cidade do Rio de Janeiro, desgraça que, à época, tomou todos os noticiários e noticiosos do país : "cai, cai, cai, cai, outra construção civil, realmente ninguém segura a arquitetura no Brasil... e o engenheiro culpa a corrosão, e a desgraça se transforma num show de televisão..."

Demolição
(Juca Chaves)

Cai cai, cai cai
Outra construção civil
Realmente ninguém segura
A arquitetura do Brasil.

Cai, cai tudo que se constrói
Da Tampa da Gameleira
À ponte de Niterói
Cai até o elevado
Do doutor Paulo Frontin
Cai o teto do mercado
E a moral de quem não tem
O engenheiro culpa a corrosão
E a desgraça se transforma
Num show de televisão.

Sai sai, sai sai
Sai de baixo quem é esperto
Arquiteto é quem se afirma
Engenheiro que deu certo.

Ai ai, que importa a demolição?
Caem coisas mais importantes
Que ninguém percebe não
Como as lágrimas forçadas
De figuras de TV
Caem os níveis dos programas
Cai cantor, cai seu cachê
E cai a bolsa − a causa ninguém diz
Só o biquini da Jacqueline
É que caiu porque ela quis.


Para ouvir a musiquinha, é só clicar aqui, no meu incorrosível  MARRETÃO.

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4 Comentários

  1. O Brasil não é e nunca será para amadores. E digo mais, é perigoso cair a energia no bairro em questão e, na pura ousadia, estes semáforos permanecerem iluminados, enquanto os demais desligam ou emitem a famosa luz laranja intermitente.

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  2. O Juca Chaves é um gênio maldito e injustamente esquecido. Também, quem mandou escrever letras cheia de ironia? Se tivesse "dormido na praça" estaria até hoje fazendo sucesso. Vou ver se acho um texto que escrevi e não publiquei sobre um viaduto que caiu em BH há poucos anos. Aí te mando (mas não para ser publicado).

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    1. Teve uma vez que o Juca Chaves disse a um repórter que a TV Globo, em reconhecimento à sua obra, tinha lhe oferecido um Fantástico e um Globo Repórter. Para isso, ele só precisava morrer!
      Um inédito do Jotabê? Pode mandar, sim.
      E por que não o publicou?

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