Do Tempo em Que nos Era Permitido Rir

Sempre que estou a pedalar pelos infinitos e, ao mesmo tempo, limitadíssimos canais da TV a cabo e calha de estar no ar A Escolinha do Professor Raimundo - a antiga e única -, eu breco e a assisto até o fim.
De um tempo para cá, o responsável pela sua transmissão, o Canal Viva, adicionou um aviso, um alerta, uma observação ou sei lá o quê, ao encerramento da atração. Depois dos créditos finais aparecem os seguintes dizeres :
Mais que um esclarecimento aos telespectadores, os dizeres são uma maneira da emissora se proteger, resguardar-se, de tirar o seu cu da reta das minorias raivosas e ávidas por polpudas indenizações que imperam neste Brasil, dantes mais varonil e com um mínimo de vergonha na cara -
que, por aqui, a honra se restaura com dinheiro e uma meia dúzia de cestas básicas.
A Escolinha do Professor Raimundo (EPR) é uma maravilha. Um primor. Como, aliás, toda a obra do demiurgo Chico Anysio. Muito melhor que qualquer tratado sociológico. É um mosaico fidedigno dos principais tipos que compõem o grosso da população. É a colcha de retalhos mal cerzida e sem arremate da sociedade da terra de Pindorama. A EPR congregava todos os hoje chamados estereótipos, que nada mais são do que representações dos variados segmentos sociais. Toda a diversidade da fauna brasileira dentro de uma sala de aula.
A EPR tinha o bicha, o gaúcho, o baiano, o turco, o judeu, o índio, o caipira, o bêbado, o mineirinho, o carioca "esperto", o puxa-sacos, o conquistador barato, a gostosa burra, o marombeiro, o CDF, a puritana, a com calor na bacurinha, o favelado, a maloqueira etc.
E todo mundo fazia piada com todo mundo. E todo mundo tirava sarro de todo mundo. E todo mundo ria de todo mundo. E, sobretudo, de si próprio. E ninguém se sentia melindrado, discriminado ou ofendido de morte. E, principalmente, todo mundo se divertia a valer.
Tanto que, acredito, os dizeres de alerta do Canal Viva bem poderiam ser substituídos por outros, tão explicativos quanto e com um quê dos bons saudosismo e nostalgia. Bem que poderiam assim ser colocados:
"Esta obra é de uma época  em que era permitido rir. De um tempo em que rir era um comportamento e um costume aceitáveis".
Na verdade, de todos os tipos e personagens da EPR, ainda é permitido que se ria de um, de apenas um. E não só que se ria, mas que se avacalhe, que se achincalhe, que se escarneça e que se cague na cabeça dele. Apenas de um : o professor.
Que, no Brasil  "construído" pelo PT e pela esquerdalha, zombar do professor, da educação e do conhecimento é mais do que politicamente correto. É o esporte nacional da Pátria Educadora.

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7 Comentários

  1. Me recordo que a Globo criou um "Núcleo de Humor" há poucos anos, sob a tutela do sem graça Marcius Melhem. O cara era uma metralhadora de mantras politicamente corretos, criticando publicamente gente como Danilo Gentilli etc. E não é que o cara era o maior predator sexual da história da emissora, exigindo sexo em troca de trabalho das comediantes? São tempos de hipocrisia... Chico passava o rodo geral, sem oferecer nada em troca a não ser... sexo. Algumas velhotas das antigas, quando dão entrevistas hoje, dizem que ir para cama com o cearense era inevitável após meia hora de conversa. O cara era bom de papo.

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    1. Pois é, predador e com um mau gosto da porra. Se estrepou porque queria comer a Dani Calabresa. O Chico passava o rodo geral. Na época, a mulherada dava para subir na carreira e admitia isso numa boa. Davam, conseguiam o papel e pronto. Todo mundo gozava e fim de papo. Quem comia ficava satisfeito e quem dava, também. Era parte da entrevista de emprego, uma espécie das nefandas "dinâmicas" utilizadas hoje em dia pelos RHs. Uma "dinâmica" muito mais dinâmica, diga-se de passagem.
      Hoje, a biscate dá para conseguir o papel e quando fica famosa e consagrada vem a público para dizer que sofreu assédio no início da carreira, que foi abusada etc.
      Bons tempos em que até as putas tinham mais dignidade.

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  2. Rapaz, por uma dessas inexplicáveis coincidências (ou apenas coincidências mesmo), lembrei-me de você em sua batalha de ensinar o que ninguém parece interessado em aprender. Realmente deve ser foda, angustiante essa sensação. E pensei nisso ao ver uma participante do BBB (Big Bronha Brasileira) mostrar um desconhecimento tão profundo sobre coisas que até criança de jardim de infância já sabe, que cheguei à conclusão que estamos no caminho de volta às cavernas. Você é professor de física (se não me engano). Mas como ensinar conceitos básicos de uma ciência nitidamente cerebral para pessoas que não têm nemvocabulário suficiente para entendê-los?
    Você pode até ser ateu, mas irá para o céu dos professores quando morrer (com direito a cerveja boa e cara!)

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    1. Sou professor de Biologia, mas houve anos em que peguei também aulas de Física e Matemática, justamente devido à grande falta de professores nessas áreas. Gente fazendo pedagogia - à distância e em dois anos -, está cheio; fazendo matemática, física e química, muito pouco.
      E você, talvez sem querer, foi direto ao ponto, enxergou uma coisa que muito professor por aí não vê : já faz muito tempo que o que o aluno não entende não é a matemática, a biologia, a geografia etc. Já faz muito tempo que o que ele não entende é tudo o que a gente fala. Não tem nenhum vocabulário. E não digo do vocabulário específico de cada disciplina, coisas como angiospermas, eucarióticas, homozigoto etc, que isso nós estamos lá justamente para ensinar. Digo do vocabulário coloquial mínimo, como você bem observou. Hoje, as letras do alfabeto deles foram substituídos por aquelas carinhas idiotas, os emojis. Nem capazes de copiar corretamente do quadro, muitos não são. Um dia desses, fui dar um visto num caderno e a menina tinha copiado um desenho de célula que fiz no quadro e na membrana plasmática, ela "copiou" memória plasmática; no cloroplasto, cloroplasma; no citoplasma, sitoplasma. Nem copiar, Jotabê. E está cheio de casos assim.
      Sobre o caminho de volta às cavernas, você, coincidentemente ou não, acertou de novo na mosca. Eu estava conversando exatamente sobre isso ontem, com um professor de filosofia. O cara é uma figuraça, tem um conhecimento acumulado que é impressionante, já transitou por várias áreas, tem uma visão histórica muito ampla e ilustrada. Ele estava me falando que o conhecimento tem períodos de auge e de glória e períodos de total obscurantismo. Citou as grandes civilizações da antiguidade, a egípcia, a grega, a maia etc. Povos que desenvolveram avançadas tecnologias para as sua épocas e que, "de uma hora pra outra", afundaram, mergulharam no obscurantismo. Ele acredita que estejamos passando por um período desse no mundo todo; claro que em países onde o conhecimento nunca foi grande coisa, nunca recebeu o devido valor, o estrago é maior.
      Rapaz, até acho que vou mesmo para o Céu. Mas tem que ser o Céu dos professores?
      Não pode ser o Céu do Hugh Hefner? Não o Céu para onde ele foi depois de morto, mas aquele em que ele morou enquanto vivo?

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    2. Rapaz, tem razão! No céu dos professores você seria obrigado a conviver com todo tipo de mala com quem trabalhou um dia (nesse caso, já não seria céu). Já o céu do "Coelhão" é bacanérrimo. O cara engravidou uma coelhinha quando já estava com oitenta anos! Como disse meu cunhado, "viagra de velho é menina nova"

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    3. Ou como disse Luiz Gonzaga, provavelmente muito antes do seu cunhado, "pra cavalo véio, o remédio é capim novo".
      https://www.letras.mus.br/luiz-gonzaga/82382/

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  3. Sobre educação te recomendo essa url ,caro Azarão. https://youtu.be/7EDjBVw8CUw

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