Lembro do seu aniversário,
Sei que você se lembra do meu.
Mas são os nossos desaniversários,
Festejados sem festa juntos,
As datas que mais comemoro.
São as fotografias não tiradas
Do não soprar de nossas velinhas
Que ocupam
E que se aninham
Nos porta-retratos que não tenho
Sobre a mesa de centro,
Sobre o criado-mudo,
Na estante, ao lado de um Bukowski.
Porém,
Inevitavelmente
Registradas internamente em minhas pálpebras,
Reveladas sempre que fecho os olhos para dormir,
Ou para sonhar
(E ai daquele que pensa que uma coisa é sinônimo da outra, ou mesmo, até, aparentadas e consanguíneas).
São os presentes nunca dados ou recebidos
Que guardo ocultos
Nos fundos falsos das minhas gavetas;
E que as perfumam de café e de cacau albino
E que espantam as traças e as baratas
3 Comentários
UAU! Isso ficou espetacular, incrivelmente bom! Se me permitir, vou republicar no Blogson com um título um pouco menor (talvez "fotografias não tiradas" ou "Cacau albino - adorei essa ideia). Se concordar e quiser sugerir um título síntese, fica ainda melhor. Parabéns mesmo!
ResponderExcluirRapaz, você sabe que não precisa nem pedir pra republicar nada daqui lá no Blogson.
ExcluirInicialmente, o título era para ter sido apenas "Desaniversários", mas aí foi aparecendo esse outro e fiquei com dó de jogá-lo fora.
Publique com o título que mais lhe agradar, se gostou de Cacau Albino, a mim também parece bom.
Valeu!
Aceito. Sempre aceitei. Gosto mais do de psilocybe. Mas já tomei de todos contigo. A camomila, como um afagar de cabelos, o de canela, causando vermelhidão... O psilo para aceitar o cotidiano enfadonho e a bebida púrpura... Ah, a bebida púrpura! Bebo para inebriar-me e esquecer que estamos tão longe e, ao mesmo tempo, tão perto. Você está sempre presente em meu universo paralelo. Você é meu curinga preferido.
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