Ruim Pra Caralho, Porém em Oferta

Hoje, em minha costumeira ida ao supermercado, lembrei-me de meu velho e há muito não visto amigo Samuel, o famoso Nariz. Em nossos idos tempos de boteco, o Nariz era o enjoado do bando, o gourmet, quando este termo nem havia ainda entrado em voga. Enquanto tomávamos ampolas de Antarctica, Brahma, a que estivesse mais barata, o Nariz só tomava da Original.
Uma vez, dei uma bicada no copo dele para experimentar o tal néctar e não achei nada de mais. Não achei nada, aliás. Não achei gosto, não achei cheiro, não achei nem álcool. Falei pro Nariz que aquela porra não tinha gosto de nada. É mesmo uma cerveja mais leve, justificou-se. Ora, porra, disse eu, se for pra tomar algo mais leve, tomo logo água de torneira, que é de graça.
Anos voaram, décadas galoparam e eu nunca mais pus a tal da Original na boca. Até hoje.
Havia visto que a Original ganhara, de um mês, mês e pouco para cá, uma versão em lata de 350 ml, por um preço que tenho até vergonha de publicar aqui. Hoje, no entanto, ela estava em oferta : R$ 1,99 a lata.
Não chega a ser um preço que eu considere módico, mas está dentro do praticável. Cheguei a pensar em comprar uma meia dúzia de latinhas; imediatamente, uma voz vinda de dentro de mim (ou de dentro de meu bolso, mais provavelmente), disse : compra só uma, só para guardar a latinha. Obedeci à voz, e foi a minha sorte.
Cheguei em casa, guardei as compras, fiquei só de cuecas e fui à sacada, degustar a preferida do Nariz. Talvez o tempo tivesse lhe trazido mais gosto, mais corpo,  e, a mim, um pouco mais de condescendência. 
Abri e tomei direto da latinha. Tomei mais um gole. Deixei-o marinando na boca, algum gosto, eu teria de ser capaz de identificar. De novo, como há 30 anos : nada. Nem gosto de malte nem de lúpulo nem de álcool. Cheirei-a. Talvez o grande diferencial da Original fosse o seu aroma, o seu bouquet, o que justificaria plenamente a preferência do Nariz por ela. Com muita boa vontade, um leve aroma de um chá de camomila, melissa, carqueja, ou sei lá, desses dados para mitigar cólicas de bebês.
Pensei : fui logrado. Botaram outra coisa na lata, ao invés de cerveja . Deitei-a ao copo. Fez uma espuma de sabão em pó. Pouquíssimos gradientes de bege e palha separavam a sua cor da cor da água. Gosto, aroma e aparência de nada com coisa nenhuma.
Bebi-a até o fim. Havia pago por ela. Boa e barata? Porra nenhuma! Ruim pra caralho, porém, em oferta.
Valeu só pela latinha, pela embalagem, que guardarei junto a outras que tenho. O rótulo tem daqueles desenhos clássicos, antigos. Gosto deles. Linhas e cores - paradoxalmente - sóbrias.
Poderão me perguntar uns degustadores : um visual vintage, Azarão? Vintage é a puta que vos pariu!!! Que vintage é biba velha! É o Clóvis Bornay!
Vendo meu exaspero, e querendo prolongá-lo à guisa de diversão (deles), talvez ainda insistam, como vi escrito em alguns sites em que pesquisei sobre a Original em lata : um design retrô, Azarão? Retrô é o cacete. O cara que fala que o visual é retrô só pode tá dando é retrô no quibe!
Em suma : a latinha é legal, a cerveja é uma merda! Só não perde para a Skol. Até a Krill é melhor!
Eis a superestimada Original. Num copo Nadir Figueiredo, este, sim, um clássico que justifica sua fama.

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15 Comentários

  1. Até parece um especialista para opinar com tanta exatidão. A verdade é que gosto é igual a escapamento, todo carro tem o seu. O seu gosto é diretamente proporcional ao valor pago pela bebida, mas o dos outros você deveria respeitar.

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    1. E quem disse que não sou?
      E quem disse que não respeito o gosto dos outros? Quem quiser tomar esta merda e pagar mais caro, fique à vontade!
      E quanto ao seu comentário com jeitos de mi-mi-mi, só tenho uma coisa a dizer : vá tomar no meio do seu cu!!!

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    2. Olha o respeito pelos seus leitores, dr marreta.

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    3. Já disse e repito : respeito é o meu caralho em riste!!!
      E a um único leitor eu tenho o cuidado de agradar : a mim mesmo!

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  2. Isso me lembra de décadas atrás, quando na universidade tomava rios de Bavaria a R$0,89 a garrafa não retornável.

    Eis que um dia provei a tal Bohemia, pagando o absurdo valor de R$1,40 na garrafa em um bar que à época estava bem acima do meu nível socioeconômico. E ao contrário da sua experiência com a Original, achei aquilo o néctar dos deuses.

    Anos depois, a Bohemia deixou de ser uma cerveja premium e alcançou as prateleiras dos supermercados. E veio minha decepção com o fato de o sabor ter mudado radicalmente... para pior.

    Eis que esses dias fui comprar sua versão "puro malte"... novamente, fui logrado. Eu diria que a Bohemia é a "cerveja travesti". Se um dia decidirem que etanol combustível estará na moda em detrimento das cervejas puro malte, basta colocar o rótulo da Bohemia e o sucesso das vendas está garantido.

    E acredite se quiser, um dia na longínqua década de 1990, a Skol era considerada a melhor cerveja em lata do país... ao menos, assim corria sua fama entre os experts.

    A grande verdade é que o brasileiro é e sempre foi um grande idiota, dentre os quais me incluo, infelizmente. Sempre levou gato por lebre, sempre consumiu "bebida adulterada". A cerveja alemã não é superior à nossa. Na verdade, na Alemanha, bebe-se cerveja.. e no Brasil, suco de milho transgênico a preço de ouro.

    Mas mudando de (falta de) malte para lúpulo, o que acha da Heineken, Azarão? Confesso que não a compro porque gosto da latinha verde, mas sim pelo gosto mesmo. Concordo que é mais cara e acabo pagando pela marca, mas ainda assim insisto no gosto que me apetece.

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    1. Rapaz, eu também já tome muito desta Bavária de que falou!!!
      Comprei a Bohemia um dia desses, o latão estava em oferta. Confesso que também não achei aquelas coisas todas, mas ainda assim achei-a um pouco superior a uma subzero, a uma bavaria, por exemplos.
      Não sei se a Skol era a melhor cerveja em lata do Brasil,eu não bebia na época. O que sei é que ela foi a primeira cerveja em lata do Brasil e, durante um tempo, a única; talvez tenha sido nessa época que ela era a melhor, pois era a única.
      Acredita que eu nunca experimentei a Heineken? Fiquei curioso agora, com sua sugestão.
      Dessas puro malte que estão por aí, das que experimentei, a que mais gosto é a Serra Malte, tem um gosto que se diferencia bastante das outras. Se não provou, compensa arriscar uma latinha.
      Valeu pelo extenso comentário.

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    2. Vai preparando o bolso, kkkkkkkkk

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    3. Rapaz, vai ser só uma! Só para degustar... Pãããããta....

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  3. Achei a Serra Malte por R$1,99 esses dias no supermercado. Nada mal, confesso. Sempre foi valorizada no métier desde a era "pré-puro malte".

    Confesso, infelizmente, minha predileção pela verdinha holandesa. Veja só, a composição dela no Brasil foi alterada, reduzindo-se o amargor de 18 IBU (valor da típico da Europa) para 14, apenas para se adequar ao paladar do distinto cidadão tupiniquim. E a diferença é grande no sabor mudando de um lugar para outro, acredite. No sul, a Heineken vende pouco e não me pareceu tão boa. Mas como está em Ribeirão, possivelmente a Heineken venha da fábrica de Jacareí, assim como onde moro. É satisfação garantida. Vale pelo menos uma lata. Depois diga aí o que achou.

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    1. Vou conferir, sim. Existe diferença de gosto entre a Heineken em lata e a long neck? Dizem que o vidro preserva melhor o sabor original da cerveja.

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    2. Há uma diferença sim, mas pelo que me disseram é justamente o oposto. Três fatores podem degradar o sabor da cerveja: temperatura, contato direto com a atmosfera e luminosidade. Então, supostamente a cerveja em lata seria a melhor opção. Assim, um cervejeiro artesanal me explicou certa vez. Confesso que a diferença me parece pequena.

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  4. Como não entendo nada de cerveja (parei de beber em 2014), entro nesta conversa só para registrar dois fatos antigos: em Minas havia duas fábricas de Antártica, uma em BH e outra em Montes Claros. Os entendidos diziam que a de Montes Claros era uma merda. Outra coisa: o copo nadir figueiredo em BH ainda é conhecido como "copo Lagoinha", provavelmente em homenagem à quantidade de puteiros e bares desclassificados que existiam na região da Lagoinha. Zona também é cultura!

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  5. Melissa é o nome da filha do Nariz. Deve ter por volta de 2 anos.

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    1. Taí uma coisa que eu vivia me perguntando : será que o Nariz procriou?

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