Aniversário do Marreta do Azarão

A sabedoria popular - graduada e diplomada ou pelo Mobral, ou pelo Madureza, ou pelo supletivo, ou, ainda pior, por uma faculdade à distância - professa horrores e impropérios a respeito do "filho do meio", aquele que não teve a atenção exclusiva dada pelos pais ao primeiro filho, que não recebeu todos os cuidados e zelos dedicados ao irmão mais velho, motivados até pela inexperiência e insegurança dos pais de primeira viagem, e que quando, com a crescente independência do primogênito, viu se aproximar a sua vez de ser o "queridinho" dos pais, foi surpreendido pelo nascimento do caçulinha. E o filho do meio ficou... no meio. Sem mar nem porto. A sabedoria popular, nos seus dias menos maledicentes, diz que o filho do meio é "problemático".
Nesse caso, a Ciência Oficial dos homens, da qual desconfio cada vez mais, corrobora a sapiência inculta das massas. A psicologia catalogou os "sintomas" mais comuns aos filhos do meio e deu-lhes status de uma síndrome. A Síndrome do Filho do Meio.
Que merda de nome. Nem mesmo um nome todo pedante e pomposo, exalando a erudição, de raízes gregas, feito complexo de Édipo, de Sísifo ou de Promoteu, se preocuparam em dar às angústias do filho do meio. Nem esse desvelo tiveram para com ele. Depois reclamam que o filho do meio seja problemático.
Pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), analisaram dados de irmãos americanos e dinamarqueses e registraram até que o filho do meio, na maior parte das vezes, tem entre 25% e 40% mais chances de terem problemas na escola. Eles também têm maior tendência à delinquência e a terem complicações com a lei no futuro. Ou seja, problemáticos.
O Marreta do Azarão é o meu filho do meio, mais novo que minhas duas gatas, que contam com 10 anos cada uma, e mais velho que meu filho, que completou oito anos no ano passado. O Marreta é o autêntico filho do meio. Revoltado, neurótico, cabeça-dura e boca suja que só ele.
As mais velhas são as mais independentes, a elas basta a caixa de areia sempre limpa, o prato abastecido de ração e a vasilha, de água fresca. O resto é com elas. O mais novo é o que consome os maiores tempo, atenção e energia. Não lhe chega água e pasto, ele requer e exige outros tipos de sustento, é levar à escola, acompanhar nas tarefas, estudar junto para as provas, ficar de olho para que não se envolva em acidentes caseiros, vigiar se escovou os dentes ou se tomou banho direito, acompanhá-lo nas suas brincadeiras, ter a pachorra de repetir mil vezes por dia as mesmas ordens e recomendações, corrigir um ou outro comportamento inadequado etc etc.
O pouco tempo que sobra - quando sobra, quando sobra e não estou tão exaurido que a única coisa que posso fazer com esse tempo é dormir -, assumo a culpa, é o que eu dedico ao filho do meio, o Marreta. Que, talvez por pirraça, por picuinha, por uma espécie de vingança em se saber preterido, é o mais enjoado dos filhos para "comer". Não aceita outro alimento que não ideias e pensamentos. Vive - ou, no caso, nos últimos tempos, subsiste - deles, e só deles. Anda meio desnutrido, ultimamente. Anêmico, raquítico. Mea culpa! Mea maxima culpa! Não venho sendo capaz de lhe oferecer um cardápio variado e balanceado de ideias e pensamentos. Só o arroz-com-feijão requentado de sempre.
Mas o fato é que, apesar dos pesares, a pesar os não-pensares, o Marreta continua aqui. Há nove anos. Nove anos se passaram de seu primeiro choro, de seu primeiro berro, de seu primeiro resmungo mal-humorado. Anêmico, desnutrido e meio desanimado, sim. Não obstante, de Marreta em riste! Sempre!

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5 Comentários

  1. Felicidades ao Marreta!

    9 anos é tempo... que vá mais 9x9.

    Abraços!

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  2. Aliás, me desculpe duplo comentário, mas fiquei decepcionado com o Cine Azarão que estava até a última semana. O "nuestros amantes" só acerta nas chistes com Bukowski, no resto, bem chato; e olha que sou de apreciar muito o cinema espanhol e sul-americano. Enfim, o que colocou agora (Bingo), esse sim, vale o crédito. Baita filme e excelente atuação do Vladimir Brichta. Um dos melhores filmes brasileiros que já assisti.

    Recomendo, ainda que não tenha pedido recomendações: Neve Negra (com o Ricardo Darín).

    Boa noite.

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    1. Rapaz, comecei a assistir Neve Negra ontem, mas a volta às aulas me extenuou, dormi no sofá; vou voltar a assisti-lo hoje.

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  3. Quem rolou de rir fui eu, filme bom brasileiro? Só se for pornô, né?! O melhor ator que o Brasil já teve foi o Alexandre Frota, melhor interpretação de orgasmo fingido categoria masculino e feminino. Me poupe. E parabéns ae para o Marreta.
    "J"

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  4. parabéns pelo aniversário! Nove anos! Muita coisa! A propósito, ainda que mal lhe pergunte, que porra é essa de "Blogs Brasil"? É um ranking de acessos? Como entro nessa?

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