“Quando a Indesejada das gentes chegar
(não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, Iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer
(A noite com seus sortilégios)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Cada coisa em seu lugar.”
(Manuel Bandeira)
Tudo o que eu queria era deixar a lida
Comer, me embriagar, dormir, trepar.
Mas já não há cor, odor, fragrância, suculência
Que resgatem meu paladar da dormência.
Nenhum assado, fritura, doce ou salada
Que faça o estômago reclamar única garfada.
Comer, me embriagar, dormir, trepar.
Mas já não há cor, odor, fragrância, suculência
Que resgatem meu paladar da dormência.
Nenhum assado, fritura, doce ou salada
Que faça o estômago reclamar única garfada.
Tudo o que eu queria era ludibriar a Desiludida.
Dormir, trepar, comer, me embriagar.
Mas já não há cansaço, fadiga, estafa, exaustão
Que convençam meus músculos a ficar por algumas horas em hibernação.
Nenhuma fantasia, desilusão, sonho ou pesadelo
Que façam os olhos gritarem pelo conforto do colchão.
Dormir, trepar, comer, me embriagar.
Mas já não há cansaço, fadiga, estafa, exaustão
Que convençam meus músculos a ficar por algumas horas em hibernação.
Nenhuma fantasia, desilusão, sonho ou pesadelo
Que façam os olhos gritarem pelo conforto do colchão.
Tudo o que eu queria era lograr a Iniludível.
Me embriagar, dormir, trepar, comer.
Mas já não há torpor, enlevação, narcose, analgesia
Que assanhem qualquer um de meus sentidos à euforia
Nenhum rum, vinho, vodka ou whisky
Que a garganta se arranhe implorando por um gole.
Me embriagar, dormir, trepar, comer.
Mas já não há torpor, enlevação, narcose, analgesia
Que assanhem qualquer um de meus sentidos à euforia
Nenhum rum, vinho, vodka ou whisky
Que a garganta se arranhe implorando por um gole.
Tudo o que eu queria era me abandonar à vida
Trepar, comer, me embriagar, dormir.
Mas já não há desejo, tara, perversão, fetiche
Que imponham ao meu sangue a libido extraviada
Nenhum suor, saliva, secreção, feromônio
Que façam em mim sequer o esboço de uma semiereção.
Trepar, comer, me embriagar, dormir.
Mas já não há desejo, tara, perversão, fetiche
Que imponham ao meu sangue a libido extraviada
Nenhum suor, saliva, secreção, feromônio
Que façam em mim sequer o esboço de uma semiereção.
4 Comentários
Esse poema ficou muito bom! Na minha opinião, até dispensaria todo o poema incidental do Bandeira. SE fosse EU, deixaria um ou dois versos, só para dar o mote.
ResponderExcluirAgora, cá pra nós, é fruto da crise dos 50 anos. Mesmo que exista alguma "liberdade poética" (pois é um poema) no final. Aos 50 ainda dá para quebrar coquinho, igual na piada. JB
ainda dá pra quebrar coquinho, mas já tenho que usar óculos para enxergar o coquinho.
ExcluirClaro que há muito da tal licença poética, não posso reclamar, de forma alguma, de minha saúde, mas claro que hoje tenho muito mais limitações que há 20 anos.
O maior cansaço mesmo, JB, é o da cabeça, o mental, que talvez seja até o pior.
O poema é brilhante, gostei da proposta das repetições. Agora só eu que não sei o que significa isso de quebrar coquinho? Kkk
Excluir"J"
Tá vendo só a vantagem de ser velho? A gente sabe até a história do coquinho.
ExcluirSe der, se eu tiver paciência de escrever, dou um jeito de contar numa postagem.