O ditado populacho,
Se assim for,
Foste meus olhos
Minha bengala branca
Meu cão-guia
Minha caneta Bic que escrevia em Braile.
O espelho que melhor
Me revelou
Em uma foto 3 x 4 de Dorian Gray.
A polida superfície lacustre
Que mais gozo e beleza
Deu às faces deste narciso
Acabrunhado e inseguro.
Hoje
Há tanto sem te ver
Sem te mirar
Sem me exibir a ti
(me pentear à tua frente, escovar os dentes, me barbeear, sem fazer caras e bocas pra te conquistar),
Sem que devolvas
A mim
O meu melhor rosto
Há tanto perdido,
Sigo feito vampiro :
Não me vejo refletido e reconhecível
Em mais ninguém.

6 Comentários
Azarildo!
ResponderExcluirCaraco... Muito bom seu poema.
Cheio de imagens e sentidos.
Muitos caminhos para a compreensão.
Parabéns!
É assim mesmo. Ao longo da vida, um dia nos deparamos com fases onde é possível separar, de cada uma delas, os nossos eus, como se fossem cada qual uma pessoa. O que você atual diria para você mesmo da época que ingressou no sistema de educação com professor? O que o pai que você é, hoje, diria ao jovem que achava a moça gostosa e queria meter um filho nela?
ResponderExcluirÀs vezes, a gente se olha no esprlho e se vê, mas não acredita, é difícil de crer.
Um abraço.
Rapaz, eu queria meter sim na moça gostosa, mas só a rola, nada de filho...pããããããta...
ExcluirE agora, respondendo ao seu comentário, me veio a bela canção A Lista, do Oswaldo Montenegro, que em certo trecho pergunta : "onde você ainda se reconhece? na foto passado ou no espelho de agora?"
Essa música é muito boa. Diz muito com uma simplicidade incrível.
ExcluirNão é um comentário muito civilizado, mas é um poema bonito pra caralho.
ResponderExcluirEu tô muito, mas muito devagar mesmo com minha escrita, uma preguiça de fazer inveja a bicho-preguiça baiano, mas, de vez em quando, sai alguma coisa.
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