Não  existem sociedades homogêneas. Sejam elas humanas, ou de que qualquer  outro tipo, não existem sociedades igualitárias. As abelhas sabem disso,  assumem e são muito mais funcionais e felizes. Aldous Huxley também  sabia : enganam-se os que consideram seu "Admirável Mundo Novo" uma  crítica feroz a uma sociedade rigidamente estratificada; oposto a isso, o  livro é uma brilhante constatação de como as coisas são. De como têm  que ser.
Toda  sociedade é estratificada. Tem que ser. Ou isso, ou ruiria rapidamente.  Ou isso, ou seria o retorno às cavernas. Menos que isso, até. Mesmo nas  mais primitivas tribos nômades havia uma estratificação, uma  hierarquia. Gorilas e babuínos formam bandos estratificados.
Os  integrantes de cada estrato social, sem serem mais ou menos importantes  que os de outros estratos, desempenham sua tarefas e funções para o bom  andamento de sua sociedade de acordo com suas aptidões e habilidades  naturais, congênitas.
Há,  naturalmente, indivíduos com maiores destrezas e posses - intelectuais,  físicas ou financeiras - e indivíduos com menores. Não há excluídos.  Todos têm seu lugar no corpo social. E cada órgão deve fazer o que lhe  cabe nesse corpo, o fígado não pode se fazer passar pelo coração, que  fracassaria se tentasse se meter no que é dos rins, que não podem fazer  as vezes da musculatura, e assim vai. O que não pode é misturar a coisa.
Quanto  menor o grau de especialização de um estrato, maior o número de  indivíduos que ele congregará, a maioria não é portadora de grandes  talentos ou diferenciais; quanto maior o grau de excelência do estrato,  menor o número de indivíduos que o compõe, são as chamadas elites.
As elites se fazem presentes em todas as áreas, econômica, intelectual, artística, esportiva, religiosa, política. 
Grosseiramente  me explicando : não dá pra existir mais empresários que empregados,  mais senadores ou presidentes que vereadores, mais Papas que padres,  apenas um pode ganhar o ouro olímpico, a copa do mundo, o Oscar ou o  Nobel. As elites sempre existiram, sempre existirão. E é fundamental que  existam.
A  meu ver, de todas as elites, a intelectual é a mais importante. É ela  que arquiteta, meio que nos bastidores, as maneiras de manter a  sociedade minimamente funcional, enquanto que as outras elites, digamos  assim, divertem-se e se exibem sob os holofotes. E é o destino dessa  elite, o cérebro do corpo social, que vem se tornando preocupante  ultimamente, pelo menos no Brasil.
As  elites são estratos restritos, criados e mantidos por processos  rigorosos de seleção, e não pode ser diferente. Seria decretar o caos  imediato se a todo atleta de fim de semana fosse dado o privilégio de  correr pelo ouro olímpico; ou se a todo ator canastrão tipo Giannechini,  o de competir pelo Oscar, ou se a qualquer semianalfabeto graduado à  distância, o de ser laureado pelo Nobel.
Mas  é o que vem acontecendo. Nas Universidades Públicas brasileiras,  outrora, e talvez um pouco ainda, as depositárias dos grandes cérebros, é  o que vem acontecendo.
Com  a tal "democratização" do ensino, a infame "escola para todos", os  níveis fundamental e médio da escola pública (os antigos grupo, ginásio e  colegial), num espaço de 15 anos, talvez um pouco mais, foram  totalmente sucateados. Era inevitável, portanto, que, depois de  bombardear o básico, a "democratização" viesse a vitimar também o ensino  superior.
Semianalfabetos  são produzidos em escala industrial, tanto pela pública como pela  particular. O rico idiota, depois de concluído o ensino médio, paga lá  dois, três anos de cursinho, dá uma remendada e acaba ingressando numa  universidade pública, ou paga uma particular como sempre fez sua vida  inteira. O semianalfabeto endinheirado não é problema para o Estado. O  pobre é.
A  partir disso, como a solução adotada pelo Estado nunca foi melhorar o  nível das escolas, começaram a surgir inúmeros artifícios para,  disfarçadamente, colocar o iletrado pobre dentro de uma universidade.
(Faço  aqui um parênteses para deixar claro que a questão não é o idiota ser  pobre ou rico, é ser um idiota, que não deveria integrar uma elite  intelectual, assim como um perna de pau não deveria jamais compor uma  seleção esportiva, como de fato não a compõe. Mas estudar é fácil,  qualquer um pode. Uma bosta que pode.)
Surgem  para isso, então, os ENEMs da vida. Que, segundo seus idealizadores e  defensores, são provas com uma abordagem diferenciada, que valorizam  menos o conteúdo e mais as habilidades e competências do sujeito em  obtê-lo etc etc.
Abordagem  diferenciada é o caralho! Competências e habilidades é a puta que o  pariu!!! O ENEM não é diferenciado porra nenhuma, ele é fácil,  ridiculamente fácil, basta saber ler, é prova para o Tiririca fazer e  ser aprovado, o ditado do Tiririca foi mais difícil que o ENEM.
O  ENEM é de um nível muito baixo se comparado, por exemplo, ao primeiro  vestibular da FUVEST que prestei, em 1985, riríamos do ENEM à época;  como os da FUVEST, segundo nossos professores, já exibiam um nível menor  se comparados aos dos extintos CESCEM, CESCEA e MAPOFEI. O nível vem  caindo, e o jeito é baixar também o nível das provas seletivas. E para  aqueles que nem via ENEM conseguem o ingresso numa pública, há o ProUni  que lhes paga uma particular.
Tudo  para que a ralé intelectual (independente de ser rica ou pobre, repito)  invada o estrato da elite. E isso é perigosíssimo. Os desdobramentos a  médio e longo prazo são evidentes, um corpo social mais e mais acéfalo e  uma dependência tecnológica ainda maior, perene, dos países  civilizados. As consequências imediatas são igualmente desastrosas e,  volta e meia, explodem vergonhosamente na nossa cara feito sacos de  merda.
No  ano passado, houve o hediondo Rodeio da Unesp, idiotas agarravam e  montavam à força as alunas gordas como se gado elas fossem, havia  apostas de quem conseguiria se manter numa gorda por 8 segundos. É essa  ralé que eu digo que nunca deveria estar ali, e pior, dali sair  empunhando um diploma . Esses dementes deveriam montar gado de verdade,  ordenhar, tirar carrapato, levar pra pastar, pisar em muita merda mole  no pasto, ou seja, fazer o que é de sua natural aptidão, sendo,  inclusive, muito mais úteis se assim o fizessem.
Nessa  semana que passou, outro efeito claro da ralé nas universidades : a  Festa da Maconha, que seria realizada nas dependências de uma das  unidades da PUC e que foi acertadamente proibida pelo reitor. O  documento emitido pelo reitor afirma que "as festas na universidade  ganharam "proporções  inadmissíveis" por causa do barulho, da duração  dos eventos e do "não  dissimulado uso de bebidas alcoólicas e  entorpecentes, afora outras  condutas reprováveis". Universidade, agora,  virou rodeio de peão, virou boate, virou balada. Tudo por conta da ralé  intelectual ali colocada.
Com  a proibição, a maconheirada se revoltou e a festa ganhou novas  proporções, os babadores de chibaba transformaram seu vício fedorento em  um manifesto pela liberdade, segundo eles. A festa foi reprogramada e  continuará sendo da maconha, mas a canabis, de novo segundo eles,  será apenas o pano de fundo, a discussão agora é mais "profunda", foi  alçada a um patamar superior, o do debate pela liberdade de expressão.  Patifaria. Pura patifaria. Um bom local, isso sim, para a polícia  exercitar o braço.
Nas  décadas de 1960, 1970, um pouco até na de 1980, a liberdade das ideias é  que era discutida e pleiteada, as livres expressões ideológica e  política eram o que se buscava. Que também não servem para bosta  nenhuma, que também não mudam nada no fim das contas. Mas, pelo menos, o  sujeito punha a cabeça para funcionar.
Liberdade  para esses atuais jovens, catapultados artificialmente à condição de  elite intelectual, é poder fumar maconha. Alguém precisa comunicar a  eles que seus pais já faziam isso há mais de 40 anos. Ah, sim!, e  portabilidade no celular. Para essa atual juventude, liberdade é fumar  maconha e ter portabilidade no celular. Puta que o pariu !!!
É a plebe comendo brioches e mastigando de boca aberta.
É a patuleia cagando no sala do trono.
É o cu tomando o lugar do cérebro. 
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