Por Isso Que Eu Só Bebo Vinho Canção

Sempre desconfiei dessas viadagens de enólogos e sommeliers. Sempre desconfiei, não! Sempre tive certeza de que esses caras são verdadeiros embustes, eles e todos os chamados amantes do vinho. Enologia não é ciência porra nenhuma, ou, se o é, faz parte do que eu chamo de ciências incertas (uma vez que não exatas, uma vez que só blá-blá-blá), do mesmo time da psicologia, parapsicologia, pedagogia, psicopedagogia, filosofia, quiromancia etc etc.
O "entendido" gira o vinho na taça, mete o narizão lá e diz perceber odores (eles gostam de dizer "notas") de tangerina, ameixas pretas, damascos de istambul, canela, especiarias do oriente e toda uma sorte de bobajadas e picaretagens. Vinho é feito para beber, para entornar, pra deixar bêbado. Fazer disso uma ciência, é pretexto para bêbado encher a cara sem culpa.
No Festival de Ciência de Edimburgo, Escócia, 578 desses entendidos, desses amantes do vinho, foram submetidos a uma degustação às cegas. Os experts nem precisariam descobrir odores, traços, notas difusas ou mesmo a safra. Eles deveriam simplesmente responder se o vinho que estavam bebendo era um vinho barato ou um vinho caro. Só isso. Foram postos à degustação vinhos com valores entre 5 e 30 libras (13 a 80 reais) a garrafa. E o resultado é que apenas metade dos entendidos acertaram a resposta.
E esses 50% de acertos podem nem ser honestos. Ainda que não soubesse a resposta, o cara podia simplesmente chutar (ou caro, ou barato) e ter 50% de chance de acertar e 50% de errar. E foi o que aconteceu. O resultado do teste foi puramente o resultado estatístico feito com qualquer grupo de pessoas, amantes, ou não, do vinho. Tudo charlatão. Tudo um bando de janotas e afrescalhados. Os vinhos baratos tinham um gosto tão bom (ou ruim) quanto os caros. Por isso, só tomo Canção.

Tenho um amigo, o Fernandão, que se diz um conhecedor das "boas cepas"; é verdade que instrumento olfativo, ele tem, o cara tem uma senhora nariga, mas também é um picareta. Um dia, ainda vou arrumar uma garrafa de um vinho argentino da região de Mendoza, ou de um californiano do Napa Valley, e tacar um Canção dentro. Tenho certeza de que o Fernandão irá degustar e se deliciar. Tudo farsa.

Um bom filme sobre o assunto é o Julgamento de Paris, baseado em acontecimentos reais. Em 1976, os maiores especialistas em vinho do mundo foram reunidos para uma degustação às cegas. No teste, havia vinhos franceses renomados e vinhos californianos (na época, desprezados pelos sommeliers). E não é que os experts deram a vitória a um chardonnay californiano achando que era francês?O negócio é tomar vinho barato. E deixar de ser otário.Fonte : BBC Brasil