Honra Ao Mérito

Sou professor do Estado, titular de cargo, e seja o que for que essa merda possa representar, significa que passei por um concurso de provas e títulos e fui aprovado.
Nessa semana, apesar disso, submeti-me a uma outra prova instaurada pelo Estado, a Prova por Mérito, cujo intento foi declarar-me digno ou não - vejam só - de um aumento salarial.
Não quero discutir aqui - não agora - os aspectos inconstitucionais ou até morais dessa avaliação, quero dizer tão-somente do nível do conteúdo cobrado : baixíssimo, prova para retardados.
Foi fornecida no edital da prova, como em todo concurso, as bibliografias a serem exigidas, uma da parte pedagógica e outra, específica para cada área.
Há 12 anos, fui aprovado no concurso que me conferiu o cargo que hoje ocupo e, de lá para cá, tenho o orgulho de dizer que nunca mais pousei minhas vistas num único texto pedagógico sequer. Nesses 12 anos, dezenas de novos pedagogos de merda com ideias imbecis surgiram e caíram no gosto dos chamados "educadores", eu não conheço nenhum e nem os estudei para a prova de mérito, aliás, não estudei nada.
Necessário parênteses: eu não me considero um "educador" porra nenhuma, sou um professor de Biologia e ponto; professor é o que anda escasso atualmente.
Pois bem, todas as teorias inúteis desses "peidagogos" me foram bombardeadas na prova, e querem saber o resultado?
Acertei 54 do total de 60 questões da prova, exatos 90%, 9 numa prova que valesse de 0 a 10.
É como dizia Raul Seixas: "eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz".
Tirei 9,0 em uma prova para a qual nada estudei. Isso é palhaçada, é patifaria. Foi, como já disse, uma prova para imbecis, uma espécie de ENEM para professores; devo registrar que considero o ENEM um dos maiores embustes educacionais de todos os tempos.
Claro que eu não conhecia patavina dos autores da bibliografia, mas nas questões havia textos dos tais e só em seguida a pergunta. Ora, porra, eu sei ler bem pra caralho, fui alfabetizado no estilo antigo, cartilha Caminho Suave, com decoreba, sabatina, reprovação e tudo o mais que esses peidagogos condenam, condenam o tradicional, mas não põem nada no lugar.
A tônica peidagógica atual diz que o indivíduo não precisa angariar e armazenar conhecimento, desde que saiba onde buscá-lo, interpretá-lo e ajustá-lo ao contexto, são os abomináveis "saberes e fazeres", nas palavras dos peidagogos.
Merda! Merda em cima de merda!
É óbvio que precisamos, sim, de uma grande bagagem de conhecimentos, um grande banco de dados, sou professor, ora essa. Imaginem-se num consultório médico e o doutor lhes dizendo que não sabe o seu problema, mas sabe onde pesquisar, imaginem o médico lhes dando as costas e indo fuçar nos livros da estante à cata de achar a cura de vosso mal.
Ridículo! Surreal! Pois é exatamente isso o defendido pelos peidagogos.
Concordo que as questões, algumas delas, deviam mesmo testar meu poder de interpretação e inferição, porém deveriam igualmente exigir-me conhecimento. E não exigiram, sequer gota dele. Acertei questões de assuntos dos quais não fazia a menor ideia, pois estavam lá os textos, estavam lá os fazeres e saberes, estava lá o ENEM.
O Estado deveria ter me ferrado pela minha falta de conhecimento e preguiça em obtê-lo, no entanto, vai me premiar.
Está errado! Isso está muito errado! Eu deveria ter ido pessimamente mal nessa prova: tirei 9,0 (não sei por que não me canso de dizer isso e nem por que me vem sempre um sorriso bobo à cara).
Mas uma coisa me consola: é saber que fui muito melhor nessa prova que a grande maioria dos "educadores" (massa acéfala que abraça essas peidagogias), é saber e confirmar-me superior àqueles que acreditam nas peidagogias, é tê-los vencido em seu próprio jogo, e sem saber as regras. Pau no cu de vocês, peidagogos de bosta.
Claro que estou desconsiderando outro fator desse meu estrondoso êxito: eu sou foda! Sou bom, mesmo!

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