Um Pedido Levemente Canalha

O Curinga
- carta bastarda de qualquer baralho -
Não devia ter pedido que tu ficasses.
Aliás, o Curinga
- vira-latas sem naipe nem pedigree -
Pediu-te?
Disse-me, ele, que não.
Disse-me, o Curinga
- bobo, bufão, saci-menestrel -,
Que te pediu para que pensasses em não ir.
É diferente, assegurou-me
- anão corcunda e demente -
O Curinga.
É diferente?
Aliás, o Curinga
- volúvel arcano -
Pediu-te?
Se não, desculpe o Curinga
- arlequim à procura de seu carnaval existencial -;
Se sim, desculpe o Curinga
- bardo-Oswaldo a atirar com alaúdes e bandolins -;
Se sim, considerarás o pedido do insano palhaço
Que só pode te prometer o que vocês já não têm?
Se não, acreditaste que o Curinga
- boneco de corpo sanfonado-mola-cuco-pêndulo frenético
que salta zombeteiro quando levantas a tampa da boceta de Pandora -
Não quis mesmo ter te pedido?
Se fores,
Assegurou-me o Curinga
- Inconstante como ele só e já cheirando a álcool -
Que o ambiente, isento de ti,
Torna-se-á um tanto quanto mais insuportável.
E ele, de guizos murchos e cadentes,
Ainda um pouco mais triste:
Um Pagliacci de lágrimas negras, perenes e coaguladas.

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