Pequeno Conto Noturno (3)

- Gostou?
- Gostei. - diz Rubens
- Trepo bem?
- Trepa.
- Bem-bem ou muito bem?
- Muito bem.
- Tá vendo como não é só puta que pode transar bem? Sou livre-pensadora, escritora, socióloga, escultora, pintora, mãe, avatar eletrônico de professor...
- Parabéns.
- E de qual faceta você mais gosta, agora que acabou de conhecer a que ainda te faltava?
- A de trepadora, você é melhor foda que todas as outras suas habilidades.
- Canalha, insensível.
- Que é isso, meu bem? É preciso ser muito sensível para dizer a uma mulher que ela é uma grande trepadora, sensibilidade masculina, claro, agora se está dizendo de frescuras e afetações, a história é outra.
- Você não acredita mesmo na mulher como produção intelectual, né?
- Claro que acredito, verdade. Admiro muito certos pensamentos femininos, mas não me identifico com eles, não me tiram faíscas da alma.
- Ah, é?
- É. Gosto de bastante coisa da Cecília Meireles, tenho certeza de que gosto muito da Clarice Lispector apesar de nunca ter conseguido lê-la, Florbela Espanca... mas nada de faíscas da alma.
- Você tem boas desculpas.
- Não são desculpas, já te comi, não preciso mais ficar agradando.
- Sei.
- É meio como o balé, acho bonito e tudo, reconheço a técnica, a disciplina e talento necessários. E tem o boxe, puta que o pariu, esse sim gera faíscas, é figadal, entende?
- Ham???
- É. Hemingway dos bons tempos é figadal, Rubem Fonseca dos bons tempos, Henry Miller dos bons tempos, o Chico compositor dos bons tempos, Marlon Brando dos bons tempos, Bukowski de qualquer tempo.
- E eu? Tiro faíscas de sua alma?
- Você tirou um bocado de faíscas hoje, se bem que não exatamente da alma, se entende o que quero dizer.
- Canalha. Pega um copo d'água pra mim?
- Ih! Tô cansadão, vai lá você, a garrafa de vidro é a que tá mais gelada.
- Aposto que se você tivesse brochado ou esporrado rapidinho ao invés de ter me deixado gozar quantas vezes eu quis e aguentei, estaria mais subserviente, atenderia a tudo que eu pedisse.
- Pode ser.
- Não vai pegar, né?
- Não.
- Então eu vou.
Rubens a vê pelas costas, uma bunda com imperfeições normais da idade, de textura e densidade próprias da carne, bunda de mulher, do jeito que ele gosta.
- Achou a garrafa?
- Achei.
- Aproveita e me traz uma cerveja.
- Filho da puta.
- As do lado esquerdo estão mais geladas, meu bem.
- Tá boa a cerveja? - ela pergunta já encostada nele, brincando com o pau.
- Boa.
- Sabe? Acho que estou com vontade de novo, o que acha?
- Acho que tudo bem.
- Então acaba a tua cerveja que vou me lavar um pouco e já volto.
- Por mim, não precisa.
- Eu prefiro.
- Tá.
- Rubens... - ela, do banheiro.
- Diz.
- Acho que não vai dar pra foder de novo.
- Você é quem sabe.
- Parece que acabei de menstruar.
- E isso é um problema pra você, boneca?
- Não é pra você?
- Não.

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