Pequeno Conto Noturno (2)

Rubens senta no banco da praça a olhar a padaria defronte e apalpa as moedas em seu bolso, tentando lhes adivinhar o valor e calcular se a somatória chega para uma última cerveja, sabe que tem pouco mais de uma hora até o sol surgir, e o montante parece-lhe o suficiente, desde que a padaria não esteja cobrando bandeira 2 da cerveja, uma prática a se tornar corriqueira nessa maldita cidade de onde ninguém consegue escapar, que é aumentar o preço da bebida da meia-noite às seis da manhã.
E daí voltar ao seu reduzido apartamento; nem sabe como irá achá-lo, nem lembra de como o deixou, somente sabe que encontrará o lençol amarfanhado, o copo sujo na pia ao lado da talha, umas duas ou três contas de luz (senão a energia elétrica já cortada) e um número igual de "recados" de mesma natureza do síndico. Nem sabe se a chave em seu bolso e a fechadura da porta se reconhecerão depois desses três meses.
Dos três meses em que esteve cativo na casa de Marisa.
Fodendo-a incessantemente, fazendo valer cada taça de vinho e copo de cerveja com os quais ela lhe cevava.
E agora Marisa o havia posto fora. Puta injustiça.
Marisa não gozava com o marido e - dizia - gozava de montão com Rubens.
Mas mulher não quer gozar. Isso é mentira!
Mulher quer é exclusividade. E Rubens é um cara até bem exclusivo, em 95% do tempo, digamos.
E de mais a mais quem não cederia àquilo? À vizinha da frente que coincidentemente saía a pôr o lixo sempre que Rubens tinha a mesma ideia? Só de delgada camiseta branca de algodão e calcinha, a vizinha. Quem não capitularia àqueles mamilos em ângulo de 45 graus e aos lanosos pelos pubianos a se esgueirarem delicadamente pelas margens da calcinha? Quem resistiria? Rubens é que não.
Rubens junta as moedas na palma da mão e se levanta. E tudo o que ele mais quer, tudo o que mais deseja fervorosamente nesse momento é que a padaria não esteja cobrando bandeira 2 da cerveja.
Rubens terá de pagar pela sua bebida daqui por diante.
Será uma vida bem mais dura.

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