Um Dia na Vida (19)

Nuns dias, ele acorda ruim - e estes são os dias bons. Nuns dias, ele acorda pior. Nuns dias, ele nem dorme.
E a insônia, hoje, lhe é folha em branco, é corredor noturno e deserto de hospital, cheirando a iodo e com fotos emolduradas de enfermeiras fazendo sinal de silêncio com o dedo indicador em riste encostado verticalmente aos lábios.
Antes, a insônia, é bem verdade, sempre foi um canteiro de estrepes, um gramado de abrolhos, um campo de espinheiros. Mas espinheiros vivos, com seiva a lhes correr nas veias, e que floriam vez em quando.
Às vezes, flores cor de areia; noutras, pétalas cor de tédio; em raras ocasiões, aveludadas flores roxas, escorrendo néctar de Mendoza.
Ah, como era bom - pensa ele -, quando minha insônia purpurejava...
 

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5 Comentários

  1. Até a insônia perde seu sabor. Assim é a vida.

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  2. Insônia, para mim, nunca teve um lado bom.
    Dom Marreta pronto para meter o terço - ou o inteiro - nas beatas, vide o padre do Mato GROSSO.
    Abraços

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  3. Que texto ótimo esse!
    Muito bacana.
    Tava inspirado, hein Azarildo!!!!

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