1984 (II)

A portaria eletrônica 
Do meu prédio
Reconhece a minha face
(e abre alas para eu passar).

No meu recadastramento
Funcional anual obrigatório
O aplicativo do governo
Reconhece a minha face
E a aceita como prova
De que estou vivo
(sabem de nada, esses aplicativos e robôs e suas inteligências artificiais).

O caixa 24 horas do banco
Reconhece minhas digitais.
A urna eletrônica eleitoral
Reconhece minhas digitais.

Só o espelho não me reconhece,
Só eu não me reconheço.

Ficamos eu e ele
Aflitos
Agoniados
Deprimidos
Em profunda tristeza
Com um nó górdio no peito
A nos perguntar :
Quem é esse estranho,
Esse forasteiro,
Quem é esse invasor?

Postar um comentário

3 Comentários