Um Dia na Vida (13)

06h15.
Eu; uma noite maldormida. Até mesmo para padrões humanos. Uma noite de cão.
Ele; uma noite muito bem vivida. Até mesmo para padrões felinos. Uma noite de gato.
Eu; coração comprimido, lesma a me arrastar penosamente para o trabalho.
Ele; coração de caçador saciado, a pairar por sobre o telhado. 
Ele; a dizer-me zombeteiro : pro mundo inteiro acordar e eu dormir.
Eu; no resto do meu caminho, cruzo com cães encoleirados levados a passeio por seus donos.
Eu; na alma, enrodilha-me um gato; no pescoço, pesa-me a coleira. 

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4 Comentários

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  2. O último emprego que tive foi em uma empresa pública onde odiei cada dia trabalhado nos onze anos a que me vi forçado a cumprir. Certamente a culpada disso não era só a empresa. Quando fiquei sabendo de um plano de demissão incentivada pedi para ser o primeiro do primeiro dia. Não sei se fui o primeiro, mas saí no primeiro dia. Meses depois, já aposentado, encontrei-me com uma ex-colega que disse que novo PDV seria lançado e que estava com dúvida se embarcava nessa canoa ou não. E eu lhe fiz estas perguntas:
    - você gosta do seu lugar de trabalho?
    -você gosta das pessoas com quem trabalha?
    - você gosta do que faz?
    Depois de ouvir três “sim”, sugeri a ela que nunca pedisse demissão e que, se possível, trabalhasse até morrer. E a explicação era simples: é muito estranho sentir-se aposentado, mudar a rotina de vida, não ter mais a obrigatoriedade de acordar cedo e até mesmo deixar de conviver com pessoas que você odeia ou despreza. É como se a vida perdesse o sentido (mesmo que ela realmente não tenha nenhum).
    Como deve ter percebido, eu sempre escrevi minhas tranqueiras fazendo correlações do momento atual com fatos passados. Diria que é a técnica “Miss Marple”. E por que estou dizendo tudo isso? Para fazer uma nova associação de ideias.
    Porque depois de três tentativas infrutíferas de acabar com o Blogson Crusoe finalmente consegui o que entendi ser o razoável e correto, pois a inspiração tinha secado (se existiu algum dia). E eu não queria ficar apenas falando mal ou bem de personalidades públicas e replicando coisas que li em algum lugar.
    Hoje, entretanto, percebo que o blog era mais que uma passarela usada para desfilar meus “dotes intelectuais”, meu “humor”. Era, lá no fundo, um canal de comunicação para quem não sai para beber com amigos, que não frequenta clubes e não recebe ninguém em casa. Essa era a essência do blog “da solidão ampliada”. E é disso que eu sinto falta (mas não há possibilidade de reanimação do Blogson). A ideia de criar e-books foi um sonho divertido, uma puta massagem em um ego gigantesco, mas que se aproxima do fim. Já selecionei o material que achei razoável transformar em dois e-books, faltando apenas definir título, capa e apresentação. Depois disso sobrará o tédio de não ter nada para fazer nem com quem “conversar”.
    Tenho percebido em seus textos mais recentes as marcas do envelhecimento vivenciado, não de ouvir falar. Por isso, como seu antigo coach de envelhecimento e lembrando o caso contado no início, é que eu te sugiro: nunca acabe com o Marreta. Foda-se se está sem assunto, inspiração ou o que quer que seja, pois ele é seu canal de comunicação com uma penca de pessoas que nunca conhecerá ao vivo e a cores. Lembrando o Ultraje, escreva “cu” e está de boa. Publique se quiser (ou não). Abraços.

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    1. Os bancos estaduais de SP, isso há uns 20 anos ou mais, promoveram a demissão voluntária. Caso a "Eduacação", um dia venha a fazer o mesmo, o que eu sinceramente duvido, creio que eu também seria um dos primeiros a aderir. Se por um lado, um cargo público dá pra gente a tranquilidade da estabilidade (hoje eu vejo, o maior de todos os engodos e os venenos), por outro, não temos fundo de garantia. Se eu exonero hoje, depois de 24 anos (no bom sentido) de serviço público, saio sem um puto, com uma mão na frente e outra atrás.
      Você diz que não há chance de reanimação do Blogson, mas pede que eu não faça a eutanásia do Marreta. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço? Mui amigo... como diria aquele personagem do Jô.
      Não tenho intenção de acabar com o Marreta, não. Embora me ressinta que não tenha conseguido alimentá-lo do jeito que gostaria. Como disse há pouco tempo, tenho textos rascunhos, prontos para irem ao ar, mas na hora de começar a digitar, eu travo, desanimo. Passei esse feriado na casa da sogra, escrevi lá um - talvez dois - pequenos poemas, ainda a precisarem de retoques, um pequeno conto noturno e um Um dia na Vida. Tudo no meu inseparável caderno. Algum deles será dado à luz do blog? Não sei, sinceramente não sei. Mesmo essa resposta ao seu, como sempre, atencioso comentário está saindo meio arrastada. Mas talvez seja só uma fase, é esperar pra ver.
      Sinto-me em débito com as pessoas que ainda acessam o Marreta. O cara gasta um tempinho pra entrar aqui e não tem nada novo publicado, as atuallizações cada vez mais escassas. Hoje, nesse momento em que lhe respondo, o blog conta com 58 visualizações, pessoas que entraram aqui e que não encontram nada novo desde quinta-feira passada. Frusto-me por elas um pouco.
      Também lembrei da letra do Roger, eu não tenho nada a dizer, também não tenho mais o que fazer, só pra garantir esse refrão, eu vou enfiar um palavrão : cu.

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    2. O Blogson foi abatido pela cláusula pétrea "nunca mais", pois eu adoto como princípio segui-la incondicionalmente. Justamente por isso eu a utilizo com a máxima parcimônia. E a utilizei no blog por realmente não ter mais nada a dizer. Mas você tem e a prova são os rascunhos que não se anima a revisar e publicar. O que eu realmente quis dizer é: não corte seu canal de comunicação com o "mundo exterior". Neste caso, realmente parece contraditório eu te sugerir isso, pois o blog "Eu não sei desenhar" está com os dias contados. Mais um mês, no máximo, e ele deixará de existir. De Jotabê na internet só restará o Blogson Crusoe. E claro, os quatro e-books que me propus publicar. E aqui fica uma piadinha: eu disse (repeti) a ideia de "querer deixar a marca da minha pegada sobre a terra", né?. Como serão quatro livros, serão quatro pegadas, sinal de que eu sou um irrecuperável quadrúpede, uma anta total.

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