Vi-Te

Vi-te hoje
(não deixei que me visses, escondi-me).
Ver-te foi como revisitar um velho e abandonado parque de diversões.
A roda gigante a ranger com artrite e neons manquitolas,
Os carrinhos de trombada com seguros e IPVAs vencidos,
A galeria de tiro de espingarda de rolhas...
(das rolhas de todos os vinhos que tomamos juntos).

Vi-te hoje
(não deixei que me visses, fiz-te um favor).
Ver-me
Seria ver meu cadáver,
Que ainda não pode se deitar,
Entregar-se à doce decomposição e ao aconchegante esquecimento.
Poupei-te da decepção
(e a mim, de vê-la em seus olhos)
E da destruição da tua boa memória de mim.
Poupei-te do constrangimento
De teres de sorrir a um estranho
Da maneira que sorrias para mim
(até com tuas orelhas tu sorris).

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5 Comentários

  1. Belo poema, Marreta. Costumo pensar que as pessoas, na maioria das vezes, não querem nos ver quando estamos a muito tempo afastados. Já perdi a conta da quantidade de gente que reencontro e espero alguma reação, mas elas passam direto. Talvez eu seja muito atento e elas não percebam mesmo, pois já questionei algumas vezes se fulano tinha me visto no lugar x e sempre diziam que não. Ou talvez eu não seja memorável suficiente para que alguém olhe pra mim kkk, sempre uma opção. Quanto a mulheres, já vi umas duas por quem tive uma queda quando jovem, mas não fui atrás, só fiquei olhando de longe, admirando. No fim, existem coisas que é melhor não mexer, deixar morrer na tumba exatamente como elas parecem ser em nossas mentes.
    A única que me reconheceu foi certa vez quando estava trabalhando de garçom. Estava atrás do balcão e ela me viu e ficou com uma cara de quem estava vasculhando a cachola por alguma memória distante. Aí ela me parou e questionou se eu conhecia ela de algum lugar. Aí tive que entregar, que tinha feito curso de inglês com ela a cerca de 7 anos numa dessas escolinhas da Wizard. Ela lembrou, o que já era alguma coisa.....
    Abs!!!

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    1. E com o tempo, com a idade, essas situações vão se intensificando ainda mais. Eu também sempre fui meio invisível, Matheus. E até que eu gosto um pouco disso.
      Abraço.

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  2. Disse tudo, essas histórias seguem vivas em nós - em carne viva, muitas vezes -, mas os laços, desgraçadamente, há muito foram rompidos. E o pior : não existimos mais aos olhos de quem um dia nos foi tão importante, não existimos mais... mas seguimos vivos, isso é o mais difícil.

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  3. Eu nunca fui muito de turma, de patota. Hoje, então, raramente, me reúno com algum amigo ou parente. Para você ter uma ideia, a última vez que me encontrei com alguém, foi com o GRF, lá no Bar da Eva, como escrevi aqui.
    Não tenho paciência para reuniões prolongadas, de um dia inteiro, não tenho mais estômago para um monte de gente falando em volta.

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