Há cerca de 15 dias, fomos ao casamento de um colega de trabalho da minha esposa. Como os noivos e suas respectivas famílias são naturais da cidade de Araraquara, a uns 100 km de Ribeirão Preto, nela foi realizada a cerimônia do enlace matrimonial. E para lá, nós fomos.
Para bem aproveitar a boca livre, que prometia ser das boas e ir até as altas horas da madruga, os convidados de fora como nós, que eram muitos, combinaram de ficar todos num mesmo hotel, a apenas dois quarteirões do salão de festas, hotel no qual, depois de bem cachaçados e com o bucho cheiro, dormiriam e do qual, no dia seguinte, já sóbrios, partiriam de volta às sua cidades.
Como todos que leem o Marreta sabem, quando eu viajo, até visito os pontos turísticos, até vejo as belezas naturais do lugar, até provo de suas culinárias típicas. Mas o que mais gosto de fazer é entrar em pequenos mercados, e quanto mais chinfrins, melhor, e pesquisar por boas e baratas de outras regiões.
Nem tinha pensado nisso dessa vez, nem considerei o passeio como uma "viagem". Porém, as Nornes entrelaçaram definitivamente o meu destino às boas e baratas. Se eu não as procuro, elas vêm até a mim.
Assim que nos acomodamos no hotel, vi que eu esquecera de levar umas garrafas de água mineral para consumir durante a estadia, como faço de costume. E, claro, não iria pagar R$ 6,00 por uma garrafinha de água de 300 ml do frigobar do hotel.
Araraquara não me é uma cidade de todo desconhecida e impessoal; pelo contrário até : ela foi o local da épica origem do Azarão, lá pelos idos de 1989, como já relatado aqui em A Origem do Azarão.
Em 32 anos, é claro, a cidade muito mudara, mas notei que o hotel não distava muito da rodoviária da cidade e me lembrei de um mercado que havia próximo a ela. Arrisquei. Falei pra minha esposa que ia comprar água num mercado próximo e já voltava. E o mercado continuava lá.
Entrei, comprei um galão de 4,5 l por R$ 7,99. Quando estava já na fila do caixa, senti um chamado irresistível às minhas costas, uma premonição. Olhei e lá estava ela, geladíssima, dentro de um daqueles refrigeradores verticais.
Lá estava ela : A Outra. Por R$ 1,59 a latinha de 350 ml.
Comprei meia dúzia e já tomei duas no quarto do hotel, nesse copinho vagabundo da foto. Duas latas a título de um "esquenta", para melhor encarar a cerimônia religiosa, a ladainha do padre, os vestidos brilhantes feito embalagens de ovo de páscoa da madrinhas, o choro dos pais, o organista a martelar seu teclado etc.
Se, por um lado, as duas latinhas me tornaram mais paciente e mais tolerante para com o casório no religioso, por outro lado, criaram um problema a ser resolvido, urgentemente. Atacou-me, em plena cerimônia, uma mijaneira desgraçada. Minha velha bexiga, nada católica, enviava sinais de estar em seu limite. Discretamente, dirigi-me a umas das cerimonialistas e perguntei-lhe por um banheiro. Atrás do altar, disse-me ela. De fato, havia dois corredores laterais, um à esquerda e outro à direita, que contornavam o altar e conduziam aos sanitários masculino e feminino atrás dele, atrás de uma grande parede.
Que tipo de padre filho da puta e sacana era aquele que punha os banheiros atrás do altar? Imaginem os noivos fazendo os seus votos de eterna fidelidade e eu passando ao lado pra ir mijar? Não ia rolar. Sem outra opção e já a apertar a cabeça do pau, saí da igreja à procura de um local para o meu alívio.
Por sorte, era noite e a igreja fica encravada bem no meio de uma praça com velhas e frondosas árvores. Fui contornando a igreja e acabei mijando em uma das reentrâncias, em um dos recôncavos de sua arquitetura neogótica.
Aliás, essa ida à Araraquara deve ter me rendido mais uns bons milhares de anos a queimar no inferno. Além da mijada na parede da igreja, no hotel, para calçar o ar-condicionado, que teimava em vibrar e fazer barulho, arranquei e enfiei umas tantas páginas dobradas daquelas bíblias disponíveis nos criados-mudos dos quartos entre o aparelho e a parede.
Mas, enfim, sim, A Outra é boa. Boa e barata. Não fica nada a dever para cervejas mais conhecidas, como a Subzero, Kaiser, Itaipava, Skol. Notei mesmo até um cheiro e um gosto mais intensos de pão, de levedura n' A Outra que nas marcas supracitadas. Não identifiquei também nenhum gosto metálico, flagrantemente presente, por exemplos, na Skol e na Itaipava.
A Outra é fabricada na cidade paulista de Socorro, que vem despontando como um grande polo cervejeiro de boas e baratas, uma espécie de Bélgica brasileira, mas, sobre esse munícipio, pretendo melhor pesquisar e dedicar-lhe uma postagem futura.
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