Escala Richter Para Cervejas

Para deixar patente a minha semi-ignorância nas mais variadas áreas, começo esta postagem com uma tripla negativa : não entendo praticamente nada de nenhum dos assuntos dos quais trato aqui no Marreta. Quero dizer com isso que não sou versado ou especialista, nem mesmo um aficionado diletante em qualquer tema ou objeto; muito menos um "entendido", aí é que não mesmo. Inclusive, e principalmente, num dos assuntos que mais toco por aqui, a cerveja. Nada entendo de cerveja. Entendo de tomar cerveja, de entornar. E só.
De resto, nada sei. Nada conheço sobre a seleção de seus ingredientes, das régias proporções entre eles, nada sei do processo de fabrico, sobre os tempos de cozimento, de fermentação, nada dos aspectos visuais, olfativos e gustativos tomados como régua de sua qualidade. Não sei diferenciar uma Pilsen de uma Lager. 
No máximo, percebo as diferentes tonalidades de amarelo de uma cerveja para a outra, mas não sei o que pode ser inferido dessa gradação, percebo se uma é mais ou menos amarga que a outra e, se a diferença for muito grande, percebo se uma é mais ou menos alcoólica que a outra. E não passo disso.
Tanto que quando quero tirar um sarro dos degustadores, debochar de toda aquela pose e aquela terminologia empolada de que se valem, confesso, recorro  a uma "cola". Vou ao excelente site Brejas.com.br. Carbonatação, persistência da espuma, retrogosto, sabor frutado etc, eu tiro tudo de lá, aleatoriamente.
Chegando ao motivo da postagem, o referido site também traz a avaliação de milhares de marcas de cerveja. Nacionais e estrangeiras dos mais variados países. Das mais vagabundas cervejas nacionais às mais cultuadas cervejas belgas e alemãs, verdadeiras lendas que ocupam o Olimpo cervejeiro. 
O Brejas tem um time de avaliadores que julga a cerveja nos quesistos aroma, sabor, aparência, sensação e conjunto. É feita uma média destes quesitos e emitida uma avaliação geral, que varia de 0 (zero) a 5 (cinco).
A cerveja Moema, da qual falei na última cerveja-feira e pela qual paguei R$ 1,35 a lata de 350 ml, alcançou a nota geral de 2,0 na avaliação dos peritos do Breja. Até aí, tudo certo, achei uma nota justa. Um conceito dois em cinco é o mesmo que um quatro numa escala de 0 a 10. Ou seja, a Moema ficou abaixo da média, tirou um quatro na prova, nota vermelha, mas nada que não possa ser recuperado. 
Então, fui procurar por cervejas que tivessem alcançado a nota máxima, ou ficado muito próximas a ela. Entrei na seção de cervejas belgas e nem precisei procurar muito, dei logo de cara com a cerveja Trappistes Rochefort 10. Uma belgian dark strong ale, com 11,3% de teor alcoólico e fabricada por monges da abadia Notre-dame de Saint Remy. Pois a Trappistes etc atingiu uma nota de 4,5 na avaliação geral de duzentos e vinte cervejeiros do site.
Aí, achei estranho. Estranho e de uma mais que injusta desproporção. Quer dizer que, analisando fria e matematicamente as notas atribuídas às duas cervejas, a Trappistes e tal é somente 2,25 vezes melhor que a Moema, uma cerveja safada de milho, que muitos especialistas se recusariam até em classificar como cerveja?
Óbvio que não. A Trappistes, com certeza, é muitas e muitas vezes superior à Moema. Erro dos avaliadores? Não, tenho certeza de que não. Erro de escala, eu afirmo. Do tipo de escala.
Uma vez que os atributos e as qualidades das cervejas analisadas são enormemente díspares e discrepantes, uma escala que abrange um intervalo tão pequeno - de 0 a 5 - é obviamente inadequada e incapaz de bem avaliá-las, e, mais ainda, de fornecer parâmetros confiáveis para os consumidores. Ou se aumenta enormemente o intervalo - zero a cem, zero a mil etc - ou se muda (que é a minha proposta) a base da escala. 
Proponho que a escala de 0 a 5 do Brejas seja mudada de aritmética para logarítmica. E aqui se faz necessária uma breve explicação sobre os dois tipos.
A grosso modo (lembram-se de que eu não sou especialista em nada?), uma escala aritmética é uma reta com origem no zero e dividida em intervalos iguais a partir dele. Os valores atribuídos a cada um dos intervalos são estabelecidos pela soma de um número constante (a razão) a começar do zero e a se repetir pelos valores subsequentes. Uma escala aritmética, a exemplos, pode ter uma razão igual a 1 (0, 1, 2, 3, 4,...), ou a 5 (0, 5, 10, 15, 20...), ou igual a 100 (0, 100, 200, 300...) etc.
Uma escala logarítimica é, basicamente, a mesma coisa; porém, os valores dados a cada intervalo são obtidos a partir do zero não pela soma de uma razão, mas pela multiplicação dela. A escala logarítmica mais usual é a de base 10. Em uma escala logarítmica de base 10, o algarismo 1 representado na reta não tem o valor de 1, mas sim de 10 (dez elevado à primeira potência); o algarismo 2, tem valor de 100 (dez elevado à segunda potência); o 3, de 1000 (dez elevado à terceira potência) e assim por diante.
Um exemplo de escala logarítmica é a Escala Richter, que mede a intensidade dos abalos sísmicos, dos chacoalhões que o planeta dá de vez em quando na esperança de se livrar de suas pulgas; no caso, nós. Assim, a exemplos, um terremoto de magnitude 2,0 não é apenas duas vezes mais forte que um de magnitude um : é dez vezes mais forte (dez elevado a um); nem é apenas duas vezes mais fraco que um de magnitude 4,0 : é cem vezes mais fraco (dez elevado a dois); e é dez mil vezes ( e não apenas três) mais fraco que um de magnitude 6,0 (dez elevado a quatro).
Penso que, dessa forma, se a escala de 0 a 5 do Brejas for tomada como uma escala logarítmica, maior justiça seria feita às cervejas por ela avaliadas.
No caso em questão, a belga Trappistes deixaria de ser apenas 2,25 vezes melhor que a hidromilho Moema; ela passaria a ser dez elevado a 2,25 vezes melhor, ou seja : aproximadamente 180 vezes superior à Moema. Acredito que ficaríamos mais perto da realidade.
Mas será que é possível agregar tantas qualidades a uma cerveja a ponto dela ser tão melhor assim que uma outra? A qualidade intrínseca à Trappistes tem como ser tão maior à da Moema? A qualidade em si, eu não sei, mas o preço, sim. Pãããããããta que o pariu se o preço, sim.

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4 Comentários

  1. Eu acredito que esse negócio de avaliação deveria ser às cegas, mas às cegas mesmo. Por exemplo, colocar a gloriosa Moema na embalagem da Trappistes ou colocar um rótulo de Toddy em cada copo (é só uma sugestão). Se eu fosse um dos avaliadores garanto que dava a mesma nota para as duas ou até mais para a Moema. O motivo é que sempre detestei sabores intensos e teor alcoólico elevado. Mas a avaliação definitiva seria esta: cerveja tem gosto de cerveja!

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    1. Sim, cerveja tem gosto de cerveja. Mas gosto de que cerveja? O gosto que nos habituamos a chamar de cerveja é bem diferente do que o alemão, o inglês, o belga, o holandês etc se habituaram. Se quando éramos pequenos tivessem nos mostrado, por exemplo, a cor verde e dito que ela se chamava amarelo, hoje juraríamos de pés juntos que as copas das árvores são amarelas.

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  2. Também diria o mesmo do seu post: faço de conta que entendo. Pois falando de escala, sabe de nada inocente. Veja essa, umas das mais caras do mundo, mas que parou de ser fabricada por causa da polêmica.

    https://www.brejas.com.br/blog/22-07-2010/bizarra-cerveja-mais-alcoolica-do-mundo-6455/

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    1. Se ela fosse feita aqui no Brasil, as "embalagens" poderiam ser um sagui e um gambá!

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