A Parte Que me Cabe e Que me Pesa Dessa Realidade

Todas as noites
Eu bebo.
 
Bebo para fugir do sono
Para fugir do amor :
Bebo para sonhar 
E para amar.
 
Em algumas noites
Eu bebo e sonho e amo a Fúlvia.
 
Em algumas noites
Eu bebo e sonho e amo
E me caso con a Veridiana.
 
Em algumas noites
Eu bebo e sonho e amo
E me caso
E tenho dois filhos com a Lupicínia.
 
Em todas as noites
Eu bebo e fujo :
De dormir e de sonhar
De casar e de procriar
De dividir cobertor e pasta de dente
De entrelaçar dedos dos pés e contas conjuntas
De me enrodilhar de conchinha e me conformar
Com a realidade 
Que me foi reservada.

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8 Comentários

  1. Eita! (e depois desse "eita!" você pode completar a frase como quiser).

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  2. Acho que preciso explicar o comentário. Ficou muito bom, mas eu tivesse escrito alguma coisa parecida estaria pendurado pelo saco em algum prego.

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    1. Há! Há! Há! Agora eu entendi!
      Era só você dizer que era licença poética etc.

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  3. Respostas
    1. Claro que há um grande exagero nesse poema, aliás com há exagero em tudo o que escrevo. Eu não bebo tanto assim, nem todas as noites.
      É que nessa noite em questão (veja que já era madrugada) eu tava tomando um rum e o rum sempre me inspira a arroubos. Perigosíssimo para mim, o rum.

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    2. "nem todas as noites"

      Eu costumava beber todos os dias. Em regra, em almoço e janta, sempre rolava ao menos uma cerveja. Mas chega a hora em que devemos dar um basta nos excessos e moderar.

      Há semanas onde bebo todos os dias, mas algo curto: uma taça de vinho do Porto, uma dose de uísque, brandy etc., ou até mesmo um cálice de licor, sempre ao final da noite. E, claro, uma cachaça. Mas apenas isso: uma dose e nada mais.

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    3. Rapaz, mas aí também você estava fazendo estágio pra Bukowski!

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