Colírio de Urtiga

Foi ela,
A rede de segurança que me seduziu ao salto
E minha queda não amorteceu;
Foi ela,
O deus que me fez virar ateu.

Foi ela,
A fogueira que me fez jogar fora meus agasalhos,
Demolir meu chalé
E me abandonou em hipotermia;
Foi ela,
Que me comissionou e me acomodou em sinecura de escravidão vitalícia
E, depois, me exonerou com a alforria.

Foi ela,
O assoalho que ruiu e se riu sob os meus pés,
Carcomido pelas formigas;
Foi ela,
Que pingou em meus olhos,
Quando estes lhe estenderam as mãos,
Duas gotas em cada um
De um colírio de urtiga.

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3 Comentários

  1. Não faltam juízes que nos condenem
    Como não faltam mandados de busca (...)

    Só que não tem parede que nos separe
    Não tem cadeia que nos segure
    Não tem nenhum santo que nos perdoe
    Nem diabo que nos ature
    Nós somos como água suja que não há processo que filtre
    Juntos somos carvão, enxofre e salitre
    Juntos temos mãos sujas que não há confissão que absolva
    Com qualquer pressão, é natural que se exploda

    -Qui dentro abito io. E quando mi leggi sono con te.

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  2. Rapaz, que surpresa boa! Tenho andado meio fora da internet (graças a um projeto pessoal muito idiota). Por isso, tenho "passeado" pouco pelos blogs de que gosto. E agora, vejo um belo poema e, perdoe-me a franqueza, um comentário belíssimo, digno de quem conhece as leis da poesia e, talvez, a poesia das leis. Fica a sugestão para meu amigo Marreta: Transforme este comentário em novo post. Ele (o comentário) merece. O(a) autor(a) também.

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    1. Já tinha pensado no mesmo, em tranformá-lo numa postagem independente. Posso estar enganado, mas me parece uma das travessuras da "J".

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