A Era Faleolítica (Ou, Cada Tempo tem o Champollion e o Indiana Jones que Merece)

O ser humano tem uterina e embrionária necessidade por totens, por símbolos que representem e que deixem registrados (ele achará que deixarão) os seus "grandes feitos", a sua triste e destrutiva passagem pelo planeta. Tem urgente e atávica necessidade por mitos, heróis, ídolos e grandes conquistas e descobertas.
Então, em tempos de vacas magras de grandes vultos e de grandes realizações, o que faz o rídiculo ser humaninho? Fabrica-os. Põe em funcionamento uma linha de montagem de ídolos e de grandes façanhas. É o fake mito.
Nesta semana, uma notícia fez vibrar o mundo paradão da arqueologia. Arqueólogos britânicos, que escavavam nas região de Hadrian's Wall (a Muralha de Adriano), Inglaterra, encontraram um pênis de 1.800 anos gravado em uma rocha. E não foi trabalho fácil, não. O achado só foi possível devido a uma parceira e a um esforço conjunto entre Newcastle University e a Historic England.
É a Era Faleolítica!
É, meus caros, antigamente, as classes dominantes e as elites inglesas se uniram para realizar as Grandes Navegações; hoje, para encontrar fóssil de rola.
O registro peniano foi feito no ano da graça de Jesus Cristo de 207, segundo os especialistas. Especialistas? Em desenho de rola? Os caralhólogos?
E tem mais. Garantem os caralhólogos que a rola foi entalhada na rocha por soldados romanos. Na época, desenhar uma rola era um pedido de boa sorte. Além disso, a rola em riste também servia como indicação para futuras tropas e centúrias romanas que por ali viessem a passar, a rola ficava ali para indicar um caminho seguro por território inimigo.
É, meus caros, a rola romana foi a precursora da sinalização de trânsito. Doravante, meus caros, a cada seta indicativa de tráfego, seja de mão única ou dupla, você verá nela um rola romana.
Pããããããta que o pariu!!!!
Os romanos eram mesmo umas bichonas! Sempre foram!
Haja vistas à crucificação de Jesus. Pegaram pra Cristo um cara todo bonitão, de longas e sedosas madeixas, de barba feita em barbearia vintage, todo sarado, de barriga tanquinho, e o botaram crucificado a trajar apenas uma sumária sunga, uma sunguinha que faria corar Fernando Gabeira (esta referência é das antigas, quem quiser que pesquise e se horrorize). E aí, volta e meia, vinha um romano e passava um paninho úmido pelo corpo suado do Nazareno, vinha outro e lhe dava uma espetada com a lança. Bichice pura.
E o traje dos soldados romanos, então? Se aquilo não é dar pinta, eu não sei o que mais pode ser. Os soldados romanos usavam saiotes, que deixavam suas robustas e torneadas pernas sempre à mostra. Saiotes feitos de tiras de couro farfalhantes, que em nada impediam a visão de um cuecão, também de couro, que usavam nas partes baixas. À pretexto de proteção, usavam peitorais e escudos de bronze cheios de altos-revelos e de brocados, que combinavam com o tom mediterrâneo de suas fustigadas cútis. E os elmos e o capacetes? Todos ornados com penachos, plumas e paetês. Vermelhos, roxos, liláses, fúcsias.
Imaginem o Cristo percorrendo o seu caminho ao Monte Calvário : um cara seminu sendo chicoteado por uma legião saída de um desfile carnavalesco do Joãozinho Trinta e a multidão vibrando nas calçadas em torno. Tenho cá para mim que a Via Crúcis foi a precursora das atuais Paradas do Orgulho Gay! Pãããããta que o pariu!!!
Os descobridores do falo romano já ganharam os seus louros acadêmicos - tiveram seu trabalho publicado em destaque no British Archeology Journal - e receberam verbas adicionais para aprofundarem suas pesquisas, aprofundarem-se nas rolas do império romano.
Não é incomum que locais de descobertas arqueológicas de tal significância para a humanidade se transformem em pontos turísticos, e que o comércio local se arvore na venda de souvenires temáticos. Não seria de espantar se, ao redor da Muralha de Adriano, ambulantes se instalassem a vender réplicas da rola romana, esculpidas em gesso ou pedra sabão, ou entalhadas em pequenas placas de ardósia ou arenito.
Eu, aliás, ficarei de olhos atentos. Caso este novo nicho mercadológico, o da rola fóssil, estabeleça bases sólidas, demonstre, de fato, um franca expansão, um pujante crescimento, também tentarei ganhar uns trocados com ele. 
Afinal, passo os meus dias (in)úteis dentro de um sítio arqueológico de rolas : a sala de aula. Desde os meus tempos de petiz, de escola primária, que a gente chamava de grupo, a sala de aula sempre foi terreno rico em registros arqueológicos de rola, cacetes, caralhos e pintos. A molecada - acho que desde os tempos em que a lousa eram as paredes da Gruta de Altamira - adora desenhar uma rola! Lembro-me de que a "tela" preferida da molecada era (e ainda é) o assento da carteira do colega. O filho da puta do espírito de porco desenhava uma rola na carteira e a sala toda ficava à espera de que o dono do lugar nela se sentasse, no que, então, a sala irrompia em gargalhadas. Na época, as rolas eram desenhadas à caneta, ou riscadas na madeira com algum objeto metálico pontudo - hoje, a maioria desenha com aquele corretivo líquido branco, o errorex. As havia - as rolas - também nos cantos dos quadros-negros e atrás das portas da sala. Lembro-me também de que não podíamos bobear com nosso material, que, do nada, aparecia uma rola desenhada no nosso caderno, no nosso estojo, ou na contracapa do nosso livro.
Não há sítio arqueológico de rolas mais profícuo que a sala de aula. A sala de aula é o Jurassic Park das rolas! Os ingleses ficarão maravilhados com minhas descobertas e registros!
Pãããããta que o pariu!!!!

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4 Comentários

  1. Texto muito legal. A primeira idiotice que me ocorreu foi imaginar os ingleses passando um pano ou escovinha na rocha para deixar mais visível a rola ancestral (e alguns até salivando). Depois, lembrei-me de uma piada jurássica em que alguém diz que "a água da piscina está fria pra caralho!". Aí a bichinha diz alegremente: "então vou pular de bunda!"
    Finalmente (já contei esse caso), diria que os vestiários femininos são (ou eram) exatamente iguais aos masculinos nos quesitos de putaria e desenho de rolas.

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    1. Lembro deste seu "causo", e já tive também a oportunidade de ver que um vestiário público feminino em pouco difere de um masculino, é igualmente sujo e emporcalhado, e, sim, tem igualmente desenhos de rola por todos os lados.
      Mas o estranho, no fim das contas, não é qie os vestiários sejam outdoors de rolas, e sim os masculinos.
      Nada de mais a mulherada desenhar rolas nas portas dos sanitários. A pergunta é : por que, nos vestiários masculinos, não vemos bucetas e mais bucetas desenhadas, rabiscadas e pichadas por suas dependências?

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  2. Eu até poderia dizer "que nostalgia", mas pegaria estranho devido ao tema. No mais, deixo meu relato de que alunos de escola particular (no caso, faculdade particular) não sabem "gozar" da mesma proeza que os de escola pública.
    Os banheiros masculinos da faculdade particular são até sujos e cheios de rabiscos, mas faltam-lhes propósito. Há zoeira: mas falta malandragem. O estudante de escola pública desenha uma rola, a causar inveja em romanos. O estudante de escola particular joga papel no vaso e diz "comi sua mãe" na parede do banheiro. É de uma inocência esses playboyzinhos. E só o fazem assim pois sabem que a faxineira estará ali para servi-los. Não é para se exibir, é para foder o trabalho alheio, diferente da escola pública, que é para gozar de tudo e de todos.
    Parece-me estranho: mas a rola desenhada em todos os cantos da escola pública é uma mostra do domínio territorial. E os alunos estão doidos para molhar o biscoito. Não desenham bucetas pois não a conhecem, por isso, rabiscam com o que nasceram.

    É um fenômeno cultural! De fato, de fato!

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    1. Acertaste no alvo, meu caro. Desenham rolas porque são todos cabações, todos uns donzelos, nunca viram uma boa duma perseguida pela frente. Já as meninas de hoje, o que já viram de rola não teria espaço suficiente para desenhar na Muralha de Adriano; quiçá na da China.

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